Título: Saneamento terá R$ 3 bilhões de parcerias privadas
Autor: Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2008, Economia, p. B3
Definição de regras e garantias para empresas no setor de água e esgotos garantiu retomada de investimentos
O marco regulatório do setor de saneamento básico, que completou um ano em janeiro, está abrindo o mercado para as companhias privadas. Agora com regras definidas sobre a atuação em concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs), elas ampliam sua participação na prestação de serviços de água e esgoto dos municípios do País e devem injetar R$ 3 bilhões por ano nas próximas duas décadas.
Segundo estimativas da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), somente este ano, as empresas privadas devem fechar de 15 a 20 contratos de saneamento com os municípios - o dobro de 2007. ¿A roda do saneamento, que estava parada, começou a girar¿, diz o presidente da Abcon, Yves Bessa.
O Grupo Odebrecht foi responsável por boa parte dos novos contratos privados no ano passado. Ganhou quatro, entre concessões e PPPs. Além disso, em dezembro, comprou a Empresa Concessionária de Saneamento de Mauá (Ecosama), responsável pelo tratamento de esgoto e gestão comercial de água do município do ABC Paulista, por R$ 20 milhões. No início de 2007, também adquiriu da francesa Suez a fatia de 50% que faltava para controlar integralmente a empresa de saneamento de Limeira, no interior de São Paulo.
O apetite deve continuar este ano. ¿Estamos de olho em duas licitações no Rio de Janeiro e negociando com quatro empresas¿, diz Fernando Reis, presidente da Odebrecht Engenharia Ambiental, divisão criada pelo Grupo em novembro do ano passado.
Com os novos contratos e aquisições, a empresa, que antes estava em apenas dois municípios, vai investir R$ 200 milhões. O grande impulso para investimentos e criação da Odebrecht Ambiental foi a entrada em vigor da nova legislação. ¿A regulamentação tornou o mercado mais estável e atraente para o investidor¿, diz Reis.
Segundo o diretor-executivo do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho, nos últimos dez anos o setor teve picos de investimentos que não se mantinham por muito tempo por causa das mudanças políticas. ¿Entrava um prefeito, mandava parar a obra e a empresa ficava no prejuízo¿, diz Pinho. ¿A Lei de Saneamento trouxe segurança em termos de continuidade e regularidade de investimentos.¿
Desde 2005 no mercado, o consórcio Cibe - formado pelos Grupos Bertin e Equipav - pretende ampliar sua atuação em saneamento a partir deste ano. ¿Estamos atentos a todas as licitações que surgirem¿, diz Leonardo Barbirato Júnior, diretor-presidente da Águas de Guariroba, uma das empresas criadas pelo consórcio.
A Águas de Guariroba assumiu os serviços de água e esgoto em Campo Grande há dois anos e já investiu R$ 220 milhões na capital sul-mato-grossense. No ano passado, ganhou o contrato de Itu, no interior de São Paulo. ¿O cenário melhorou muito com o marco regulatório¿, diz Barbirato.
CENÁRIO
A Abcon diz que a retomada do interesse privado é um sinal positivo de reorganização do setor. ¿Em dez anos, as empresas privadas devem absorver 30% das operações de água e esgoto¿, diz o presidente da entidade, Yves Bessa. Hoje, apenas 5% do mercado - cerca de 70 municípios - está com essas companhias. O otimismo também se justifica pelas condições macroeconômicas. ¿O cenário está favorável ao financiamento de longo prazo¿, diz Bessa.
A entrada das empresas no setor de saneamento começou em 1995, quando foi promulgada a Lei das Concessões, que permitia aos municípios celebrar contratos com empresas para prestação dos serviços de água e esgoto. Até então, de acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico (Planasa), da década de 70, somente companhias estatais podiam operar essas atividades.
A falta de regras claras, porém, sobre a atuação das companhias e a dificuldade de financiamentos de longo prazo inibiu a entrada dos investidores. Hoje, existem cerca de 30 empresas privadas operando no País, segundo a Abcon.
Mesmo com a regulamentação, um dos assuntos mais polêmicos continua sem resposta: a titularidade dos serviços nas regiões metropolitanas. A Constituição não deixa claro se Estado ou municípios devem assumir os serviços nessas áreas, o que motiva diversas discussões na Justiça e provoca um entrave para investimentos. A questão aguarda decisão no Supremo Tribunal Federal (STF).
FRASES
Yves Bessa Presidente da Abcon
¿A roda do saneamento, que estava parada, começou a girar.¿
Fernando Reis Presidente da Odebrecht Engenharia Ambiental
¿Estamos de olho em duas licitações no Rio de Janeiro e negociando com quatro empresas. A regulamentação tornou o mercado mais estável e atraente para o investidor¿