Título: Lula vira mediador na disputa de cargos entre Dilma e Sarney
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Nacional, p. A11

Senador quer reforçar ministro que indicou, mas ministra resiste a ceder postos estratégicos

Christiane Samarco

O desfecho da queda-de-braço travada entre a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o senador José Sarney (PMDB-AP) pela presidência da Eletrobrás pode ocorrer nas próximas 24 horas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou audiência para amanhã com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para estabelecer a quota de poder do PMDB e do PT da ministra Dilma no setor elétrico.

Embora o PMDB tenha dirigido a pasta por quase dois anos, entre julho de 2005 e maio de 2007, quando Silas Rondeau se demitiu, sob a acusação de envolvimento em esquema de fraude em licitações, a cúpula do partido se queixa do poder de mando permanente de Dilma. Com a posse de Lobão há 26 dias, o PMDB planejou não só reaver o ministério para um afilhado de Sarney, como conquistar o comando do setor elétrico.

A disputa entre Dilma e Sarney envolve uma dezena de cargos de direção em estatais. A cúpula peemedebista acredita, porém, que só terá o comando real do setor elétrico se conquistar a Eletrobrás. O partido acha que esse é o posto mais importante do setor, porque expressará a força política do novo ministro. Segundo um importante dirigente do PMDB, Sarney entrou na briga para reforçar o ministro que ele próprio indicou.

Vencer a ministra-chefe da Casa Civil, no entanto, não está nada fácil. Por pouco Dilma não emplacou na última semana seu candidato Flávio Decat, apadrinhado a pedido dela pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Decat traz no currículo a passagem pela presidência da Eletronuclear e por uma diretoria da Centrais Elétricas de Minas Gerais (Cemig).

Setores do PMDB já davam por perdida a batalha, quando Lula brecou o processo e adiou a definição para evitar uma crise com os peemedebistas do Senado, em meio às negociações para instalar a CPI dos Cartões.

O adiamento foi decidido depois de uma conversa de Lula com Sarney, a dez mil metros de altitude, no avião presidencial, em viagem da Guiana Francesa a Brasília, na semana passada.

A partir daí, Lobão evitou o confronto direto com a ministra, retirando-se do front. Chamado ao Planalto para tratar de cargos, levou uma lista tríplice com nomes do PT e do PMDB.

O candidato de Sarney para a Eletrobrás, com o apoio da bancada de senadores e o apadrinhamento do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), é o ex-presidente da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e da Eletronorte José Muniz Lopes.

OUTROS IMPASSES

Há resistências ao afilhado do deputado Jader Barbalho (PA) para presidir a Eletronorte. Relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) à Casa Civil dá conta de que Lívio Rodrigues de Assis tem problemas com o Fisco e é réu em processos na Justiça Federal. Como Jader garantiu que seu afilhado tem certidões negativas, o Planalto aguarda documentos para tomar a decisão.

Aproveitando-se disso, setores do PT trabalham para convencer Lula a entregar a presidência da Eletronorte ao afilhado de Sarney. A estratégia petista é calar Jader, que não teria como contestar um nome do amigo Sarney, e manter o PT com um pé no setor elétrico - pelo controle da Eletrobrás.

Experientes, velhos caciques do PMDB já têm munição para contra-atacar, caso lhes seja oferecida a Eletronorte, não a Eletrobrás. Informarão ao presidente que Muniz avisou a todos de sua impossibilidade de morar em Brasília, como se exige do presidente da Eletronorte.

Lula terá de arbitrar, ainda, a disputa pela Diretoria Internacional da Petrobrás. Nesse caso, o enfrentamento se dá entre a bancada do PMDB mineiro na Câmara, coordenada pelo deputado Fernando Diniz, e um tipo de consórcio entre petistas e peemedebistas do Senado.

Outra briga que pode complicar bastante a vida do governo no Senado em tempos de CPI é a que se dá em torno da Diretoria de Construção de Furnas. O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp, indicou para o posto Antônio de Pádua, que já ocupa uma superintendência na estatal. No entanto, o PT do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), também está de olho na cadeira.

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