Título: Nascimento do MST teve influência religiosa
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Nacional, p. A12
Até hoje padres da Comissão Pastoral da Terra são os principais pontos de apoio de sem-terra
O MST, o principal movimento de sem-terra do País, nasceu no final dos anos 70 sob as asas da Igreja Católica, estimulado pela Comissão Pastoral da Terra e sob os eflúvios da então efervescente Teologia da Libertação. João Pedro Stédile, o líder mais conhecido do movimento, tem formação católica e começou a se interessar pelas questões agrárias a partir de seu contato com padres capuchinhos da ala progressista da Igreja no Rio Grande do Sul.
Foi a Teologia da Libertação que deu o subsídio para a idéia, repetida na semana passada pelo bispo d. José Maria Libório Saracho, de que a invasão de terras é um recurso ao qual os cristãos podem recorrer, em nome dos interesses sociais da terra. Por essa visão, imoral é o latifúndio - a grande extensão de terra improdutiva.
A ligação entre MST e Igreja não é tão intensa quanto no passado, mas continua forte. No Pontal, os padres da CPT ainda constituem um dos principais pontos de apoio dos sem-terra.
Para o frade dominicano Carlos Josafá Pinto de Oliveira, um dos expoentes da Teologia da Libertação no País, o apoio à luta dos sem-terra tem sustentação na doutrina social da Igreja: ¿Muitas pessoas fora da Igreja cultivam a idéia de que a propriedade privada é um direito absoluto. Mas a doutrina tem uma dupla dimensão. Uma pessoal, que diz respeito ao direito dos proprietários; e outra social, que diz respeito à correta utilização da propriedade. No caso da terra, um latifúndio improdutivo viola a dimensão social. Nesses casos, o Estado deve intervir. Se ele não cumprir sua missão, os que estão sendo lesados podem tomar medidas para forçar o Estado a, democraticamente, cumprir a dimensão social da propriedade, por meio da reforma agrária.¿
O teólogo diz que é inaceitável a idéia de que o direito de propriedade é sagrado, natural e intocável: ¿A grande propriedade rural merece ser ocupada quando não é útil, quando não está sendo devidamente explorada. Quem fala em direito natural e sagrado está falando apenas de uma parte dessa história, a parte individual, e esquecendo a social.¿
Em Petrópolis, o reitor da Universidade Católica, padre José Maria Pereira, alerta para os exageros desse tipo de pensamento: ¿A doutrina social da Igreja é muita clara na condenação do latifúndio improdutivo, pois Deus criou a terra para todos. Mas não podemos nos esquecer da necessidade de respeito à propriedade privada, que tem fundamento filosófico, é uma exigência da natureza intelectual do homem.¿
O padre dá um exemplo do que isso significa: ¿O bem privado é um estímulo para a pessoa progredir. Para planejar o futuro, a pessoa tem que possuir bens, frutos de seu trabalho. A propriedade é o penhor de uma sociedade organizada, articulada. É um direito.¿
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