Título: Vou fechar Guantánamo e proibir tortura
Autor: Brinkbäumer, Klaus ; Hujer, Marc
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Internacional, p. A16

Se eleito, McCain promete ainda discutir acordo global sobre mudança climática, mas defende permanência no Iraque

Klaus Brinkbäumer e Marc Hujer

Favorito na disputa pela indicação republicana, o senador John McCain, de 71 anos, promete fechar a prisão de Guantánamo, apoiar um acordo ambiental e mudar o curso de algumas políticas do governo do presidente George W. Bush.

Os EUA perderam aliados porque o presidente George W. Bush permitiu que os direitos humanos fossem violados em Guantánamo e não quis colaborar para o esforço conjunto de combate ao aquecimento global. Sob o seu governo, haverá uma mudança de curso?

Sim. Se for eleito, vou anunciar que nunca mais torturaremos ninguém que esteja sob a custódia dos EUA. Vamos fechar Guantánamo e transferir esses prisioneiros para Fort Leavenworth, no Kansas. Também anunciarei o compromisso de tratar da questão da mudança climática e assinar um acordo global, desde que ele inclua a Índia e a China. Seria uma tolice se não fizéssemos isso.

No futuro, os EUA tentarão agir sozinhos com menos freqüência?

Bem, todos nós esperamos que a América seja novamente multilateral no futuro. Houve épocas em que os EUA atuaram unilateralmente, mas em geral preferimos trabalhar junto com nossos amigos e aliados.

Que papel a ONU vai desempenhar no seu governo? Bush sempre ignorou essa organização.

A ONU tem um papel importante. Mas, neste momento, estamos lidando com a Rússia, que claramente optou por uma ação obstrutiva. É por isso que a ONU precisa atuar como uma liga de democracias que compartilhem nossos valores e princípios.

O sr estaria disposto a conversar com líderes como o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?

Enquanto o Irã continuar defendendo a extinção do Estado de Israel e tentando adquirir armas nucleares, essa não será uma situação aceitável. Trabalharei com outras democracias para encontrar incentivos e punições para os iranianos.

A guerra é um instrumento legítimo da política?

Todo o país tem direito de se defender. Esse é um direito fundamental.

O sr participou da Guerra do Vietnã e foi torturado durante os cinco anos e meio que passou como prisioneiro. Imaginamos que já tenha tido conflitos suficientes na sua vida.

Nós, veteranos, realmente odiamos guerras. Não tenho dúvidas de que esta foi a pior experiência que tivemos. Mas, de alguma forma, também foi a época mais magnífica da minha vida por causa da coragem e da bravura daqueles com os quais tive o privilégio de lutar.

Até que ponto as experiências dessa época continuam a influenciar sua vida?

Obviamente foi um período marcante da minha vida. Minhas opiniões, porém, foram moldadas por um conjunto amplo de experiências. A vivência no Vietnã é apenas uma delas. Há muitas lições a serem aprendidas com a Guerra do Vietnã, entre elas a Doutrina Powell, segundo a qual, se formos entrar num conflito, precisamos ter uma força esmagadora e fazer a coisa o mais rapidamente possível. Um dos nossos erros no Iraque é que nunca tivemos o número suficiente de soldados para controlar o país depois da vitória militar inicial.

Quando o sr era prisioneiro de guerra, alguma vez sonhou em se tornar presidente dos EUA?

Não. Nunca.

Há poucos meses sua campanha parecia condenada ao fracasso. Agora, o sr é favorito entre os republicanos. Como explica essa mudança?

Há muitas razões. Uma delas é que fomos aos Estados e falamos a verdade. Às vezes era aquilo que as pessoas queriam ouvir e, outra vezes, o que não queriam. Elas responderam a isso.

O sr sempre apoiou a ofensiva no Iraque. Como pretende defender sua posição contra os democratas, que querem a saída imediata das tropas americans?

A senadora (Hillary) Clinton e o senador (Barack) Obama retirarão nossas forças do Iraque baseados num cronograma arbitrário, organizado em nome do oportunismo político e que ignora a calamidade humana e os riscos para a nossa segurança. Eles não tratarão com seriedade a ameaça representada por um Irã com ambições nucleares contra nosso aliado, Israel, e toda a região.

Os EUA estão no Iraque há cinco anos e, nesse período, quase 4 mil soldados americanos morreram. O que faz o sr ter tanta certeza de que o aumento no número de soldados poderá realmente fazer diferença?

Pretendo ganhar a guerra e confio no comprovado discernimento de nossos comandantes e na coragem e no altruísmo de nossos soldados. Sei que o custo em vidas e recursos de um fracasso no Iraque será muito maior do que as perdas que tivemos até agora. Não permitirei que isso aconteça.

E o que acontecerá se isso vier a ocorrer de qualquer maneira?

A Al-Qaeda anunciará para o mundo que derrotou os EUA. E conforme nós nos retirarmos, eles avançarão, até atingirem diretamente os EUA.

O sr é conhecido em Washington pelo temperamento explosivo...

Isso não é verdade. Tenho trabalhado com democratas e membros do meu próprio partido de forma eficiente.

Quer dizer que o sr se considera um candidato sem defeitos?

Sou um homem com muitas falhas. Não tento esconder isso de ninguém. É por isso que acredito tanto no perdão e na redenção.

Muitos republicanos acham que o sr é mais democrata do que republicano, pelo fato de o sr votar com freqüência com o outro lado.

Orgulho-me de ser um conservador e afirmo isso porque acredito no mais básico dos princípios conservadores, que a liberdade é algo concedido a nós pelo Criador, não por governos, e que o objetivo da Justiça e do Estado de Direito no nosso país não é agregar poder, mas proteger a liberdade e a propriedade de nossos cidadãos. Acredito em um governo enxuto, em disciplina fiscal, impostos baixos e juízes que apliquem as leis. E acredito na defesa inflexível do nosso direito à vida e na busca da felicidade.

O que o torna diferente de Obama e de Hillary?

A senadora Clinton e o senador Obama querem aumentar o tamanho do governo federal. Eu pretendo reduzi-lo. A senadora Clinton e o senador Obama elevarão os impostos. Eu pretendo cortá-los. Os EUA impõem a segunda maior alíquota de imposto de renda sobre empresas de todo o mundo. Reduzir os impostos sobre as empresas irá estimular o crescimento econômico.

Se eleito, aos 72 anos de idade, o senhor será o homem mais velho a tomar posse como presidente na história dos EUA. Sua idade não será um problema na campanha?

Sou saudável, estou em boa forma física e posso mostrar que sou o candidato com mais experiência e discernimento para conduzir os EUA neste momento perigoso.

Quem o sr espera que seja seu oponente no Partido Democrata ?

Não tenho a menor idéia. Comparados comigo, a senadora Hillary Clinton e o senador Barack Obama têm diferenças filosóficas significativas. Eles são democratas liberais, eu sou um republicano conservador. Teremos um debate muito animado.

Todas as pesquisas indicam que Obama será mais difícil de derrotar porque ele inspira os eleitores independentes...

Não sei qual dos oponentes será o mais difícil. Sei que agrado muito aos independentes.

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