Título: A liderança das mulheres na democracia moderna
Autor: Kristof, Nicholas
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Internacional, p. A16

Embora nenhuma mulher tenha sido presidente dos EUA, o mundo tem experiência de alguns milhares de anos com líderes femininas. E é preciso reconhecer que os antecedentes históricos dessas mulheres envergonham os homens.

Uma parte notável de grandes líderes da história foi composta de mulheres: as rainhas Hatshepsut e Cleópatra, do Egito, a imperatriz Wu Zetian, da China, Isabel de Castela, a Rainha Elizabeth I da Inglaterra, Catarina, a Grande, da Rússia, e Maria Tereza, da Áustria. Concordo que deixei de lado líderes como Maria, a Sanguinária, como ficou conhecida Maria I, rainha da Inglaterra. A verdade, porém, é que mulheres que subiram ao poder em monarquias, alcançaram um enorme sucesso.

Um pesquisa realizada por psicólogos aponta algumas explicações possíveis. Os estudiosos concluíram que as mulheres, em comparação com os homens, distinguem-se quando se trata de criar consenso e na habilidade para liderar.

Então, por que as líderes políticas foram muito menos excepcionais na era democrática? Margaret Thatcher foi uma figura transformadora, mas mulheres presidentes ou primeiras-ministras foram medíocres em países como Sri Lanka, Índia, Bangladesh, Paquistão, Filipinas e Indonésia. Na maioria das vezes, nem sequer conseguiram lidar com necessidades prementes das mulheres em seus países.

Eu tenho uma teoria. Nas monarquias, as mulheres que subiram ao trono lidavam com uma elite limitada, por isso era fácil provar sua capacidade e continuar governando. Nas democracias, na era da televisão, elas precisam enfrentar preconceitos públicos.

Em uma experiência comum, feita em vários países, um grupo de pessoas é convidado a avaliar um discurso feito por um homem, enquanto outros avaliam o mesmo discurso feito por uma mulher. Geralmente, todos dão uma nota maior quando o discurso é feito por um homem.

A autopromoção é uma estratégia útil para os homens, mas quando as mulheres ressaltam suas próprias realizações, provocam antagonismos ou não despertam interesse. E as mulheres parecem ficar ainda mais ofendidas com a autopromoção feminina do que os homens. Isso cria um enorme desafio para mulheres porque, quando ela é uma pessoa modesta, é considerada medíocre. Se ela procura promover suas realizações, porém, é taxada de presunçosa.

Para o azar das mulheres, a liderança feminina pode ser reconhecida pela competência ou pela simpatia, mas não por ambas. ¿Ser julgada uma boa mulher e líder é uma luta árdua¿, diz Rosabeth Moss Kanter, professora da Harvard Business School, que estuda casos de mulheres em posição de liderança.

Segundo ela, uma pioneira no mundo masculino como Hillary Clinton também enfrenta esse tipo de julgamento, muito mais do que um homem. Prova disso foi o debate público em torno dos seus ¿tornozelos grossos¿ e as manchetes sobre seu decote.

No geral, roupas e aparência são mais importantes para as mulheres do que para os homens. Surpreendentemente, vários estudos concluíram que, na verdade, quando uma mulher candidata-se a um cargo de direção, o fato de ser fisicamente atraente a coloca em posição de desvantagem.

As candidatas bonitas não conseguem uma boa classificação aparentemente porque são enquadradas no estereótipo feminino e, portanto, consideradas inadequadas para um cargo patronal.

Em todo o mundo, as mulheres que ocupam posição de liderança deparam-se com esses julgamentos insuportáveis. Esther Duflo, economista do MIT (Massachusetts Institute of Technology), estuda o caso da Índia, que desde meados da década de 90 passou a exigir mulheres em um terço das câmaras municipais.

Esther e suas colegas concluíram, usando padrões objetivos, que as mulheres administraram melhor essas localidades do que os homens. Entre outras coisas, elas souberam manter melhor os poços e receberam menos propinas.

Em geral, porém, os moradores não gostaram do trabalho delas e a maioria acabou não se reelegendo, o que parece ter sido resultado de puro preconceito. Contudo, esse tipo de preconceito, de acordo com Esther, tende a desaparecer à medida que os eleitores vêem essas mulheres em ação. ¿A exposição reduz o preconceito¿, sugeriu Esther.

As mulheres sempre brincam que precisam ser duas vezes melhores do que os homens para chegarem a algum lugar. Infelizmente, as democracias modernas podem fortalecer esses preconceitos e, dessa maneira, reprimir as mulheres que ocupam uma posição de liderança, coisa que não acontecia nas antigas monarquias.

*Nicholas Kristof escreveu este artigo para The New York Times

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