Título: Pizzolato deixa lacunas ao depor à Justiça no Rio
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2008, Nacional, p. A11
Depois de negar as acusações de envolvimento com desvio de recursos públicos, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil (BB) Henrique Pizzolato teve dificuldades ontem para explicar por que é acusado de receber R$ 326.660,27 ilegalmente do publicitário Marcos Valério e como comprou um apartamento por R$ 400 mil.
Em depoimento no processo criminal sobre o mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), prestado à 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o ex-diretor, um dos 40 denunciados no caso, alegou ter feito um favor a Valério - acusado de operar o esquema - recebendo dois envelopes, que não abriu, para repassar ao PT. Pressionado pelo juiz Marcelo Granado, porém, Pizzolato admitiu ter pago parte do apartamento em dinheiro.
Ele também se queixou das acusações. ¿Tenho vivido uma situação de Guantánamo há três anos¿, disse, numa referência à prisão que os EUA mantêm em Cuba para terroristas. Pizzolato foi denunciado por peculato (desvio de dinheiro público por servidor), corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-diretor admitiu ter enviado o contínuo da Previ (fundo de pensão do BB) Eduardo Ferreira a um endereço no Rio para pegar ¿documentos para serem repassados ao PT¿. Segundo ele, uma mulher que se identificou como secretária de Valério (que conhecia em razão do trabalho com publicidade no BB), telefonou e pediu que pegasse os papéis e os entregasse ao partido, como um favor. Pizzolato enviou Ferreira. Mais tarde, um emissário do PT foi pegá-los no apartamento onde mora. ¿Sinceramente, o senhor não achou estranho?¿, perguntou o juiz. ¿Hoje, se Deus me pedir, não me movo mais¿, respondeu.
Sobre o imóvel, ele inicialmente garantiu que pagara tudo em cheque. Quando o procurador José Alfredo de Paula Silva lhe perguntou se quitara tudo em cheque, ele disse que, por orientação de seus advogados, não responderia a perguntas do Ministério Público nem de outros advogados. ¿Então vou perguntar ao senhor: o senhor pagou integralmente em cheque?¿, surpreendeu o juiz. Ele acabou admitindo que pagara R$ 300 mil em cheque do BB e o resto ¿em espécie¿, obtidos da venda de moeda estrangeira.
O réu praticamente retirou tudo o que declarara à CPI dos Correios, quando insinuou que Luiz Gushiken, ex-ministro de Comunicação de Governo, interferia em decisões de investimentos da Previ. ¿Na CPI dos Correios não tive condições de raciocinar, de pensar, fui coagido.¿ Ele encerrou o depoimento dizendo sentir ¿inconformidade, revolta, insatisfação¿ com a forma como foi envolvido no caso.
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