Título: UE rejeita mais uma vez lista de fazendas aptas a exportar carne
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2008, Economia, p. B6

O `Estado¿ descobriu que algumas das 523 propriedades foram incluídas na relação por pressão política

A União Européia (UE) rejeitou, mais uma vez, a lista de fazendas certificadas pelo Brasil para exportar carne bovina. Ontem, em Bruxelas, representantes do governo brasileiro entregaram à Comissão Européia (CE) uma lista com 523 propriedades aptas a vender o produto.

O Estado apurou, porém, que a lista não tem apenas base técnica e alguns nomes teriam sido mantidos por pressão política. Para completar, o número de animais em cada fazenda foi modificado. Irritados, os europeus pediram que o Brasil volte hoje à CE com uma lista revisada e deixaram claro que só vão certificar 300 propriedades.

Oficialmente, o gabinete do comissário de Saúde e Proteção do Consumidor da UE, Markus Kyprianou, optou pelo sigilo sobre o conteúdo da conversa. ¿Vamos continuar as reuniões amanhã¿, disse a porta-voz da CE, Nina Papadoulaki. Fontes que estiveram nos encontros, porém, admitiram que o clima não é bom e a credibilidade do País está afetada.

Bruxelas, após dois anos de alerta sobre as condições sanitárias da carne brasileira, decidiu, no fim de 2007, exigir que o País apresentasse uma lista de apenas 300 fazendas aptas a exportar e garantisse a rastreabilidade do gado. O temor dos europeus é quanto à febre aftosa.

A primeira lista apresentada pelo governo brasileiro continha 2.600 fazendas e, como resultado, os europeus suspendeu a importação de carne. Diplomatas revelaram ao Estado que, na véspera, técnicos do governo tentavam montar a lista e retiraram fazendas com base em questões burocráticas - como a existência ou não do CPF do dono do estabelecimento - e não na situação sanitária.

No início da manhã de ontem, após muitos telefonemas entre Brasília e Bruxelas, pressões e tensões, a lista acabou incluindo 523 fazendas. Mas, para surpresa dos europeus, alguns nomes nem sequer estavam em listas anteriores.

Para complicar ainda mais a situação, o número de cabeças de gado por fazenda era diferente do apresentado em janeiro, o que deixou o Itamaraty furioso com o Ministério da Agricultura. O governo acabou reconhecendo, durante a reunião com os europeus, que, de fato, nem todas as fazendas na lista inicial estavam 100% verificadas.

Os europeus sugeriram ao governo que voltasse para a missão do País em Bruxelas e revisasse a lista, se não quisesse mais uma vez receber uma resposta negativo.

Hoje, um novo encontro está marcado. Os europeus deixaram claro que, se o Brasil não apontar as 300 fazendas, caberá a Bruxelas escolher.

A comissão também quer discutir hoje como será a missão dos veterinários europeus que virá ao Brasil. A viagem começa dia 25 e Bruxelas pretende visitar 10% das 300 fazendas. Com base nessa visita, os veterinários vão sugerir se o embargo deve ser mantido ou não.

Fontes do próprio governo brasileiros admitiram que a lista apresentada em janeiro, assim como a de ontem, não tinha como base apenas aspectos técnicos ou sanitários. O Ministério da Agricultura teria sido pressionado por fazendeiros a ter suas propriedades incluídas, mesmo adulterando o número de cabeça de gado.

Segundo a missão do Brasil, os representantes do ministério continuariam trabalhando em nova lista ontem à noite para apresentar hoje.

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