Título: Máquinas agrícolas com som e computador
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Economia, p. B5

Produtores voltam a investir em equipamentos mais modernos, como a colheitadeira comprada por Maurício Dias

José Maria Tomazela

Para não se apertar na colheita das lavouras de soja e milho que cobrem uma área de 2,5 mil hectares, o agricultor Ricardo Ghirghi, um dos proprietários da Fazenda Água Clara, em Taquarivaí, sudoeste paulista, investiu mais de meio milhão de reais na compra de uma nova colheitadeira, a quinta de uma frota que inclui tratores, semeadoras, pulverizadores e caminhões.

Não é uma máquina qualquer: a cabine pressurizada tem computador de bordo, localizador por satélite (GPS), monitor de perdas e, para o conforto do operador, assento pneumático com ajuste eletrônico, ar quente e frio, tocador de CD com som estéreo e frigobar. ¿O preço é quase o de uma Ferrari, mas vale cada centavo.¿ Em um dia de trabalho, o equipamento é capaz de encher de 15 a 20 carretas duplas de milho.

Com os preços agrícolas elevados e a perspectiva de boa produtividade na safra de verão que começa a ser colhida, produtores como Ghirghi voltaram a investir em máquinas e equipamentos. O foco está em produtos que garantam o máximo de aproveitamento da lavoura e o menor desperdício de grãos.

Ghirghi usou parte da receita obtida com grãos como o trigo na safra passada, que já teve bons preços, para ampliar e renovar a frota da fazenda. Agricultor experiente, ele não saberia o que fazer sentado à frente dos comandos hidráulicos da máquina. ¿Ainda me dou melhor com os comandos manuais.¿

CHAPÉU DE PALHA

O operador Jackson Félix Machado, de 26 anos, não se intimida. Com formação de técnico agrícola, ele fez cursos de regulagem e operação de máquinas e, principalmente, de informática. ¿É preciso ter as manhas de computação e eletrônica.¿ Só não dispensa o chapéu de palha.

Ghirghi administra a fazenda com três irmãos e conta que, com a retomada dos preços agrícolas, o foco se voltou para a área eletrônica. ¿Avançamos muito na parte de manejo da lavoura, como plantio direto, adubação e irrigação¿, diz, lembrando que a fazenda tem 15 pivôs centrais. ¿Agora, é a hora de usar as inovações tecnológicas para elevar a produtividade.¿

As últimas semeadoras adquiridas pelos Ghirghi têm monitores que permitem programar a quantidade de semente e de fertilizante por metro quadrado. ¿Os produtos agrícolas estão valorizados e não dá para pensar em desperdício.¿ A perspectiva de uma grande safra levou os agricultores do sudoeste paulista, principal região produtora de grãos do Estado, a voltarem às compras. Tratores reluzentes e colheitadeiras novinhas em folha chegam às fazendas que cercam Taquarivaí, cidade de 5,5 mil habitantes.

Os agricultores disputam a mão-de-obra de tratoristas e operadores de máquinas. Com a falta de profissionais especializados, as fazendas investem na formação de seus empregados. ¿Nosso pessoal é encaminhado para cursos e criamos uma graduação de salários conforme a habilidade¿, conta Maurício Fernandes Dias, da Fazenda Capituva. Os mais jovens têm facilidade para manusear os novos equipamentos, mas não significa que os empregados com mais idade estão fora desse mercado, segundo ele. ¿São eles que passam a experiência para os mais jovens.¿

Na quarta-feira, Dias reuniu três dezenas de agricultores da região em sua fazenda para uma palestra sobre o mercado agrícola e, de quebra, mostrar sua última aquisição: uma colheitadeira com todo o aparato tecnológico das outras máquinas, mas dotada de um sistema de super-rotação que permite a colheita de grãos com nível de umidade elevado.

¿Ela pode entrar no campo mais cedo e trabalhar até a noite¿, explicou o produtor, que pagou em torno de R$ 600 mil pelo equipamento. Os participantes do evento, produtores tecnificados, brincavam dizendo que Dias não ia colocar a máquina na lavoura para não ¿sujar de terra¿.

PÉS NO CHÃO

O gerente Cláudio Ortlieb, da Tratorag, de Itapeva, que representa a marca John Deere, espera dobrar as vendas de colhedoras este ano. No ano passado foram vendidas 11 máquinas, ante apenas 4 de 2006, ano em que a agricultura ainda amargava a crise iniciada em 2003. Apenas em Taquarivaí ele já vendeu três máquinas este ano.

Os equipamentos podem ser financiados em até seis anos, com um de carência, pelo Moderfrota, o programa de modernização de frota de tratores e máquinas agrícolas do governo federal.

O produtor Ariolvado Fellet, da Fazenda Lagoa Bonita, que também adquiriu equipamentos para agricultura de precisão, disse que está impressionado com os rumos da agricultura. Ele contou que no ano passado produziu 34 mil sacas de sementes de trigo e vendeu tudo. ¿Este ano, ampliamos para 71 mil sacas e não sobrou nada.¿

Fellet acha que o agricultor deve manter os pés no chão. ¿Não adianta sair por aí comprando tudo, pois não sabemos quanto tempo a boa fase vai durar.¿ Mas a Lagoa Bonita, que teve bons resultados com o feijão e o trigo na última safra, está ampliando em 70% sua capacidade de armazenagem, com a construção de novos silos.

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