Título: Economia do Brasil é robusta e dirigida com prudência
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2008, Economia, p. B7

Gestora de recursos de US$ 750 bi que investiu fortemente no País na crise de 2002 mantém aposta em papéis brasileiros

A administradora de recursos Pacific Investment Management Co., mais conhecida no mundo financeiro como Pimco, ganhou notoriedade no Brasil há alguns anos, ao apostar no País mesmo durante a crise que antecedeu a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o vice-presidente-executivo e co-presidente para mercados emergentes, Michael Gomez, o Brasil ainda é um dos países preferidos da Pimco. Por razões estratégicas, ele não revela quanto a empresa tem de papéis brasileiros na carteira. O que ele diz é que o País está bem posicionado para enfrentar a desaceleração dos Estados Unidos. ¿Vemos uma economia crescendo de forma robusta.¿ Situada em Newport Beach, na Califórnia, a empresa administra quase US$ 750 bilhões em fundos de renda fixa, sendo um deles o maior do planeta no gênero. O fundo de emergentes, onde estão os bônus brasileiros, possui US$ 80 bilhões. Ele conversou com o Estado, por telefone, da sede da empresa.

A Pimco investiu no Brasil em momentos difíceis para o País. Agora a situação é bem diferente. O que vocês sentem hoje, depois de terem feito a aposta certa?

Como nós investimos apenas em renda fixa, avaliamos como está a saúde da economia, analisamos as perspectivas e apenas assistimos ao que ocorre no mercado acionário. Dito isso, acreditamos que as perspectivas para o Brasil continuam muito boas. Vemos uma economia crescendo de forma robusta, que está sendo conduzida prudentemente. A economia brasileira está se beneficiando substancialmente de um longo período de estabilidade política e econômica.

E no contexto atual, de forte desaceleração - e talvez recessão - na economia dos Estados Unidos?

A questão nos EUA é o impacto dos problemas no mercado imobiliário no consumo e, conseqüentemente, no crescimento. Nesse contexto, vemos duas questões em relação ao Brasil. Em primeiro lugar, o panorama geral para o crescimento dos países emergentes continua a ser relativamente positivo, embora reconheçamos que o mundo desenvolvido tenha entrado em um ciclo de baixa. A segunda questão, especialmente importante no caso do Brasil, diz respeito às perspectivas para a China. Nesse caso, vemos uma economia que, embora tenha perdido um pouco de seu ¿momentum¿ por causa da desaceleração global, tem uma perspectiva de longo prazo muito boa graças a questões internas. A dinâmica interna chinesa está relacionada a uma tendência de longo prazo de industrialização e reorganização de sua população. Por isso, projetamos taxas de crescimento relativamente robustas para a China nos próximos anos. Talvez desacelere dos 11,5% de 2007, mas ainda vemos algo em torno de 9% a 10% para 2008. Isso é muito bom para o ambiente de commodities e para os países que se têm alimentado dessa grande história que é a China. O Brasil é um deles.

Em relação à economia americana, vocês projetam recessão?

A discussão sobre os EUA deve ir além da avaliação se o país entrará formalmente em recessão ou não. Isso é perder o foco. O que importa é que vamos ter um período no qual o crescimento nos EUA ficará abaixo do potencial. O ponto central é que os problemas no mercado imobiliário não são fáceis de resolver nem serão solucionados rapidamente.

Quais são os países mais vulneráveis à desaceleração americana?

Há dois tipos diferentes de vulnerabilidade: a econômica e a de crescimento. Alguns países estão fortemente ligados aos EUA comercialmente. O primeiro que me vem à mente, nesse caso, é o México. É uma economia que, por isso, vai desacelerar em 2008. O outro grupo é composto pelos países com déficit em conta corrente, que precisam de financiamento. Nesse caso vejo alguns países do Leste Europeu, como Romênia e Hungria, além da Turquia. No caso do Brasil, o crônico déficit em conta corrente foi resolvido nos últimos anos. Deverá haver um novo déficit em 2008, mas, graças à sua extensão, não cremos que seja algo com que o Brasil se deva preocupar.

Vocês mudaram algo em decorrência da atual turbulência?

Estamos preocupados com os problemas no mercado imobiliário americano há um bom tempo. Então, esse vaivém dos mercados não nos pegou de surpresa. Continuamos a monitorar a evolução desse movimento e seu impacto em outros países, especialmente na Europa e em alguns países emergentes. O Brasil será afetado também, mas as perspectivas do País em direção a uma economia madura não foi afetada.

Qual a posição do Brasil hoje nas estratégias da Pimco?

O Brasil tem o apoio de uma sólida política macroeconômica. O País se beneficiou fortemente da credibilidade do Banco Central. As reservas internacionais cresceram significativamente nos últimos anos. A posição brasileira em termos de crédito já o faz merecer o grau de investimento. Acreditamos que o País vai recebê-lo em 2008. O País está melhor preparado para absorver choques.

Quando o Brasil receber o grau de investimento, a estratégia da Pimco para o País vai mudar?

Não mudaremos por causa do investment grade. O que veremos é mais gente interessada no Brasil. O prêmio de risco associado ao Brasil vai cair.

O que vocês projetam para a taxa de juros no Brasil?

Vai se aproximar cada vez mais do nível dos países desenvolvidos.

Quando isso ocorrer, o Brasil continuará atrativo para investidores como a Pimco?

O Brasil não ficará menos atrativo, apenas as oportunidades serão diferentes. Da mesma forma que há um mercado de taxas de títulos públicos muito bem desenvolvido, há um número grande de instrumentos que se desenvolveram fora desse mercado. Há os mercados de swaps e de hipotecas, entre outros. São coisas que, ao longo do tempo, vão se desenvolver no Brasil à medida que o mercado amadurecer. As estratégias vão se assemelhar muito mais às que já adotamos no mundo desenvolvido. Serão oportunidades diferentes.

O Brasil ainda é um dos países preferidos da Pimco?

Sim.

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