Título: Dados roubados eram de megacampo da Petrobrás
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2008, Economia, p. B8
Informações levadas de um contêiner referem-se à jazida de gás natural de Júpiter; Polícia Federal decretou sigilo para investigar o caso
Nicola Pamplona e Marcelo Auler
As informações estratégicas furtadas da Petrobrás referem-se à descoberta gigante de gás natural de Júpiter, na Bacia de Santos, anunciada pela estatal em 21 de janeiro. Segundo fontes do setor, são dados sobre a tecnologia de perfuração de poços que vêm sendo desenvolvida pela companhia em suas atividades em busca de reservatórios abaixo da camada de sal, província descoberta em 2006 e considerada pela consultoria americana PFC Energy como ¿a mais excitante notícia exploratória do ano¿.
As informações estavam em quatro notebooks e dois discos rígidos da prestadora de serviços americana Halliburton, que tem contrato com a estatal para traçar perfis de poços petrolíferos, coletando dados como tipo de fluido encontrado, espessura e porosidade das rochas dos reservatórios. Foram furtados no trajeto entre uma plataforma de perfuração na Bacia de Santos, de onde a carga saiu no dia 18, e Macaé, no norte-fluminense.
Parte do trajeto, entre o litoral paulista e o Rio de Janeiro, foi feita por navio. A carga ficou cerca de dez dias no terminal de contêineres da Poliportos, na zona portuária do Rio, e depois seguiu de caminhão para Macaé. O furto só foi descoberto no dia 31 de janeiro por funcionários da Halliburton.
A delegada da Polícia Federal responsável pelo caso, Carla Dolinski, informou ontem que as investigações passaram a ser conduzidas sob sigilo absoluto, para preservar o trabalho dos investigadores. Não está descartada a participação de funcionários da estatal na ação. Anteontem, Carla disse que, além de espionagem industrial, a polícia trabalha com a hipótese de furto comum.
A Petrobrás, mais uma vez, não quis comentar o assunto, nem mesmo quando questionada por que computadores com informações importantes eram transportados por contêineres, procedimento considerado incomum por especialistas.
O delegado Luiz Carlos Carvalho Cruz, titular da Delegacia Especial de Polícia Marítima da Polícia Federal, disse que cargas em contêineres são monitoradas e um rastreamento pode indicar onde foi feita a última checagem do lacre original, o que revelaria o local onde o equipamento foi levado. Para o delegado, ¿dificilmente o furto ocorreu no Porto do Rio¿, onde há dez anos não há registro de roubos.
O diretor da Associação dos Engenheiros de Petróleo (Aepet), Fernando Siqueira, diz que casos semelhantes já ocorreram em Macaé, onde três funcionários da estatal tiveram suas residências assaltadas para furto de computadores portáteis. ¿São engenheiros que analisam dados de poços.¿ Executivos de empresas parceiras ou prestadoras de serviços da Petrobrás, porém, vêem poucas chances de espionagem industrial no caso.
O mercado de petróleo teme que o fato seja usado politicamente. Em nota distribuída ontem, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirma que o incidente ¿pode impor sérios prejuízos ao País¿. Áreas com características semelhantes constam da lista da 8ª Rodada de Licitações da Agência Nacional de Petróleo (ANP), suspensa em 2006, que deve ser retomada este ano.
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