Título: Transporte em contêiner é comum
Autor: Lima, Kelly; Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2008, Economia, p. B3

Para José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás, situação é normal; especialistas consideram improvável

O presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobrás, disse ontem que é ¿procedimento corriqueiro¿ o transporte em contêineres dos equipamentos utilizados pelas empresas que fazem testes de perfilagem nos poços de petróleo após o fim das operações. Entre esses equipamentos, Dutra disse que é natural que sejam transportados também notebooks, como os que foram roubados no fim de janeiro de um contêiner da empresa americana Halliburton.

¿Não houve nada de excepcional neste caso, a não ser o próprio roubo do equipamento. Resta saber apenas que tipo de informações esses computadores continham¿, disse Dutra, lembrando que tradicionalmente os dados em operações semelhantes são transmitidos em tempo real à sede da estatal no Rio. ¿Quando há necessidade de manter uma cópia nos computadores das empresas contratadas pela Petrobrás, como é o caso da Halliburton, há um acordo de confidencialidade.¿

Especialistas do setor, no entanto, consideram improvável o fato de que informações estratégicas fossem transportadas em um contêiner que passou 12 dias entre uma plataforma de perfuração na Bacia de Santos e a base da Halliburton, em Macaé, na região norte-fluminense. Um ex-diretor da Petrobrás afirmou que as cópias dos dados coletados, quando são feitas, deveriam seguir para a sede da estatal em memórias removíveis, como pen drives.

Os equipamentos furtados foram usados na perfuração de poços na Bacia de Santos, possivelmente a que resultou na descoberta gigante de gás de Júpiter. O uso de contêineres como escritórios nas plataformas de perfuração é comum, já que várias empresas participam desse tipo de operação. Segundo um especialista, pelo menos 300 pessoas, a grande maioria funcionários de empresas terceirizadas pela Petrobrás.

¿Os fatos até agora relatados revelam uma ingenuidade absurda, incompatível com a seriedade e a competência da estatal brasileira¿, concorda o consultor Jean Paul Prates. ¿Ou se magnificou propositadamente o arrombamento de um contêiner com o objetivo de caracterizar uma suposta e criminosa cobiça por dados secretíssimos e fundamentais, ou os dados eram realmente isso tudo e houve negligência.¿ No mercado, são muitos os defensores da tese de que o episódio está sendo supervalorizado, com o objetivo de justificar mudanças no modelo de leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A Petrobrás permanece sem comentar o assunto. Dutra, no entanto, fez questão de descartar qualquer ligação entre o roubo e uma decisão do governo de não licitar outros blocos com potenciais reservas de óleo ou gás abaixo da camada de sal. Ele lembrou que a decisão de retirar os blocos desse tipo na 9ª Rodada da Agência Nacional de Petróleo (ANP) já havia sido tomada no ano passado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

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