Título: Queremos um acordo de longo prazo
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2008, Economia, p. B6

Miguel Jorge: Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Cleide Silva

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, defende que o novo acordo automotivo com a Argentina tenha duração de pelo menos cinco anos. O livre comércio, defendido pelo Brasil nos últimos anos, voltará às discussões, embora os negociadores brasileiros estejam preparos para mais uma recusa por parte da Argentina. O ministro deu a seguinte entrevista ao Estado:

O que o governo brasileiro vai propor na reunião de hoje?

Já na visita que a presidente Cristina Kirchner fez ao Brasil logo após ser eleita, eu disse que deveríamos discutir uma política para o setor automotivo de longo prazo. É muito difícil atrair investimentos - que é o que eles querem -, se todo ano tivermos de discutir uma nova política. Que empresário fará investimento se ele sabe que daqui a um ano acaba o acordo e é preciso renegociá-lo? Se muda o governo, por exemplo, e dá uma confusão, pode não ter acordo, e como fica o investidor?

Qual foi a reação da presidente argentina?

Ela ficou muito sensibilizada e disse que realmente teremos de fazer isso. Eu diria que já há uma concordância entre os dois países de que deve realmente haver uma política de longo prazo.

Longo prazo é quanto tempo?

Essa é a questão que está sendo discutida. Nós gostaríamos que fosse, por exemplo, um acordo de cinco anos.

O livre comércio, defendido pelo Brasil há vários anos, vai ser adiado novamente?

Nós continuamos achando que deveria haver um livre comércio. Mas o que está se discutindo nesse momento são prazos. Depois, quando fecharmos isso, vamos avançar na discussão de volumes, e se libera ou não o comércio. Gostaríamos muito que, nessas negociações, já se decidisse um prazo para a liberação, até porque as fábricas são as mesmas lá e aqui. Investimentos nas montadoras estão sendo feitos. Talvez nós precisaremos fazer mais investimentos nas autopeças.

Como senhor vê essa resistência dos argentinos em relação ao livre comércio com o Brasil se o país tem, por exemplo, acordos nesse sentido com o México e o Chile?

É compreensível, por mais que a gente fique de cara amarrada, pois se comparamos as duas economias é possível entender a preocupação deles. Estamos falando no Brasil de uma produção de mais de 3 milhões de veículos para este ano. Eles têm produção de 500 mil veículos. Se você é seis vezes maior, tem de entender a posição de quem é seis vezes menor.

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