Título: UE rejeita proposta da OMC para Doha
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2008, Economia, p. B6

Em encontro realizado em Bruxelas, 20 dos 27 ministros da região não concordam com concessões na área agrícola

O ministro da Agricultura da França, Michel Barnier, anunciou ontem que 20 dos 27 países da União Européia (UE) rejeitaram a última proposta da Organização Mundial do Comércio (OMC) para a conclusão de um acordo global na Rodada Doha. O grupo considerou que a proposta resultaria em muitas perdas ao setor agrícola europeu.

¿Preferimos não ter acordo a ter um acordo ruim¿, disse o francês, após encontro realizado com seus pares de 20 países membros do bloco. Grã-Bretanha, Suécia, Dinamarca, República Checa, Estônia, Letônia e Malta não participaram da reunião, em Bruxelas.

O grupo discutiu as propostas apresentadas pela OMC no dia 8 de fevereiro. O plano pedia que a UE aprofundasse os cortes em tarifas de importação sobre produtos agrícolas.

A reação dos europeus põe em evidência a divisão entre nações ricas e pobres na OMC, que há anos não conseguem um acordo para concluir Doha.

Na semana passada, a Comissão Européia, órgão executivo da UE, disse que as propostas agrícolas feitas pela OMC eram críveis, mas lhes faltava equilíbrio quando eram comparadas com outras áreas-chaves das negociações, como bens industriais e de serviços.

A França tem dito que não fará concessões na área agrícola. O país é o maior beneficiário individual dos subsídios da UE nessa área, avaliados em mais de 40 bilhões por ano. Barnier disse também que vários chefes de Estado e de governos europeus escreveram ao presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, advertindo com relação aos pontos negativos da proposta da OMC.

Em compensação, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, disse estar disposto a considerar a proposta se outros integrantes da OMC fizerem sacrifícios semelhantes.

AMORIM OTIMISTA

A decisão de 20 dos 27 países da União Européia de rejeitar a última proposta de acordo agrícola da Rodada Doha não abalou o otimismo do governo brasileiro. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que acredita que a União Européia esteja firmemente engajada em uma conclusão bem-sucedida das negociações da OMC, apesar das resistências internas no bloco.

¿Se são 20 dentro de 27, há esperança¿, afirmou Amorim, ao lado do também otimista chanceler da Índia, Pranab Mukherjee, que realizava uma visita oficial a Brasília.

¿As propostas de acordo nas áreas agrícola e de indústria/serviços não satisfazem a todos. Mas temos a responsabilidade de negociar, e isso vai além dos interesses localizados¿, completou.

Para Amorim, a incerteza nos rumos da economia mundial impõe mais urgência à conclusão da Rodada Doha. O ministro indiano acrescentou que todos os parceiros da OMC estão conscientes de que, na proposta de acordo agrícola, há 127 colchetes.

Trata-se da forma de destacar, no texto, os temas sensíveis que ainda estão em negociação. Brasil e Índia lideram o G-20, grupo de economias em desenvolvimento que exige dos países ricos maior abertura do mercado agrícola e corte nos subsídios ao setor. ¿Essas divergências podem ser conciliadas se todos mostrarem interesse na conclusão da rodada¿, afirmou Mukherjee.

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