Título: Brasil não desperdiçou bonança global, diz Meirelles
Autor: Pinheiro, Vinícius
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2008, Economia, p. B7

Para presidente do BC, País interrompeu mecanismo de vulnerabilidade

O ajuste realizado pela economia brasileira com base no tripé responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e compromisso com as metas de inflação tem mostrado valor tanto em períodos positivos como em momentos desafiadores, como o atual. A afirmação é do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. ¿O Brasil não desperdiçou o período de bonança e se preparou para uma possível deterioração global¿, disse Meirelles, durante a premiação ¿Qualidade em Bancos¿, na sede da Bovespa, em São Paulo.

Meirelles evitou comentar a recente melhora da inflação e das expectativas do mercado para os índices de preços. Mas destacou a melhora nos níveis de solvência da dívida brasileira, que, segundo ele, estão no melhor momento da história. Ele mencionou também a política de acumulação de reservas, que multiplicaram por 12 nos últimos anos. Segundo o presidente do BC, a economia brasileira interrompeu um mecanismo ¿perigoso¿ de vulnerabilidade. ¿Os ciclos viciosos (do País) fazem parte de livros de história.¿

Como exemplo, Meirelles destacou que, hoje, quando há uma depreciação cambial, o impacto na dívida é negativo, ao contrário do passado. Ele também ressaltou que o motor da economia brasileira atualmente é a demanda doméstica, com o aumento do crédito, da renda e do emprego. Mas ponderou: ainda há canais abertos à vulnerabilidade externa. ¿Ninguém tem a ilusão de que o País estará ou está totalmente imune.¿

Sobre a crise que atinge a economia dos Estados Unidos, Meirelles observou que os efeitos ainda não são totalmente conhecidos, principalmente no que se refere à capacidade dos bancos americanos de continuarem emprestando.

Segundo Meirelles, o Brasil não crescerá com base meramente na política macroeconômica. ¿Em última análise, o que vai definir a capacidade de o País crescer mais rápido é o aumento da produtividade.¿ E acrescentou: a política macroeconômica apenas dá condições para que as empresas e os indivíduos busquem maior qualidade e eficiência em seus processos.

Em relação aos bancos, Meirelles disse que o BC está atento ao cenário e poderá tomar ¿medidas prudenciais¿ para evitar um desequilíbrio no sistema bancário brasileiro. Ele destacou, porém, que os bancos brasileiros estão capitalizados e registram um aumento na concessão de crédito sem elevação dos indicadores de inadimplência.

Meirelles evitou mencionar que tipo de providência o BC poderia tomar, mas citou normas adotadas no passado, como o aprimoramento na gestão de risco e a revisão das regras de requerimento de capital das instituições financeiras. Ele ressaltou, particularmente, os limites para exposição cambial dos bancos que o BC implementou em junho do ano passado. ¿Quando a medida foi tomada, não foi entendida por muitos, que não a consideravam necessária. Essa opinião durou 45 dias.¿ Na ocasião, em conseqüência da restrição da autoridade monetária, os bancos brasileiros tinham pouca exposição à moeda americana, o que contribuiu para evitar um contágio maior da deterioração global.

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