Título: Glencore quer dez anos de contrato na venda da Xstrata
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2008, Negócios, p. B10

Segundo jornal britânico, exigência de direitos sobre venda de minério é o entrave no acordo com a Vale

Agências Internacionais

A trading Glencore, principal acionista da mineradora anglo-suíça Xstrata, exige um contrato de dez anos de direitos de comercialização de minerais para fechar a venda da empresa para a Vale, segundo informações do jornal britânico The Sunday Times. A Vale, ainda de acordo com o jornal, oferece à Glencore um contrato de cinco anos - excluindo o minério de ferro, o principal produto da mineradora brasileira.

As negociações entre as duas empresas chegaram na semana passada à beira do fracasso, exatamente por causa dessa discordância. 'Chegamos ao nosso limite', disse, na sexta-feira, o presidente da Vale, Roger Agnelli. 'Dependemos da Glencore para continuar construindo esse acordo.'

Agnelli confirmou que uma disputa sobre direitos de comercialização detidos pela Glencore na Xstrata é o maior obstáculo ao acordo. 'O problema é que há alguns princípios que não queremos abandonar', disse, durante a apresentação do balanço da empresa. 'Comercialização é algo muito importante para nós; gostamos de um relacionamento próximo, forte, com nossos clientes.' Ele afirmou ainda que a Vale não abrirá mão das negociações com o minério de ferro. 'A comercialização do minério não foi pedida, não tem ninguém que faça (essa negociação) melhor do que a Vale.'

De acordo com outro jornal britânico, o Sunday Telegraph, a Glencore teme perder sua maior fonte de receita - boa parte do lucro de US$ 6 bilhões da empresa vem dos direitos de comercialização de produtos da Xstrata, como o níquel. O jornal também informa que as negociações entre a Vale e a Glencore, que haviam sido interrompidas na semana passada, depois do impasse, foram retomadas.

As informação do Sunday Times são de que, aparentemente, a questão do preço já não é um grande entrave ao negócio - a Vale pagaria # 45 por ação da Xstrata, em dinheiro e troca de ações, o que dá à empresa anglo-suíça um valor de US$ 85 bilhões. A Vale já fechou um financiamento de US$ 50 bilhões para o negócio com um consórcio de bancos.

Na sexta-feira, Agnelli afirmou que, apesar das negociações, a Vale poderia partir para outra aquisição se as conversas com a Xstrata não avançassem. 'Estamos sempre buscando combinações estratégicas e temos olhado sim, temos conversado sim (com outras empresas), são negociações de longo prazo', disse o executivo, sem especificar quais seriam essas empresas.

Ele afirmou ainda que, mesmo estando sempre estudando possíveis aquisições, a prioridade da Vale continua sendo o crescimento orgânico, ou seja, pelo desenvolvimento de projetos próprios.

A Xstrata anuncia hoje seus resultados de 2007, e a expectativa dos analistas é que a empresa apresente um lucro recorde de US$ 5,6 bilhões, graças, em boa parte, à aquisição da produtora canadense de níquel Falconbridge, em 2006.

Será a primeira vez que o presidente da Xstrata, Mick Davis, ficará frente a frente com investidores desde que a companhia admitiu, em dezembro, as negociações com a Vale.

A combinação entre as duas empresa criaria a maior mineradora do mundo, à frente da anglo-australiana BHP Billiton. A BHP, no entanto, também está às voltas com uma oferta de aquisição da rival Rio Tinto, outra anglo-australiana. A oferta de US$ 147 bilhões, foi recusada pela direção da Rio Tinto, mas a palavra final cabe aos acionistas.

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