Título: Delegado classifica de falcatrua retratação que inocenta Palocci
Autor: Macedo, Fausto; Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2008, Nacional, p. A4

Para Valencise, que investigou o caso, não há dúvida de que Buratti e ex-ministro ¿combinaram tudo¿

¿É uma verdadeira falcatrua¿, disse ontem o delegado Benedito Antonio Valencise, de Ribeirão Preto, ao avaliar os termos da retratação do advogado e empresário Rogério Buratti, que inocentou o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) por meio de declaração pública registrada no 14.º Tabelião de Notas de São Paulo.

Para o delegado, que em 2005 indiciou Palocci no inquérito sobre a máfia do lixo em Ribeirão Preto - cidade que o ex-ministro administrou em duas ocasiões -, ¿não resta dúvida de que eles (Palocci e Buratti) combinaram tudo¿.

Naquele ano, Buratti aderiu à delação premiada e jogou Palocci, hoje deputado (PT-SP), no centro de um escândalo sobre licitações supostamente fraudulentas. Ele denunciou mensalão de R$ 50 mil que teria sido pago pela empreiteira Leão & Leão ao petista na época em que comandou a Prefeitura de Ribeirão pela segunda vez, entre 2000 e 2002.

Em junho do ano passado, Buratti se retratou, conforme o Estado revelou ontem. ¿São inverídicas as condutas atribuídas ao ex-ministro Antonio Palocci. Não é verdade que a Leão & Leão deu contribuição mensal de R$ 50 mil a Palocci.¿

Para José Roberto Batochio, criminalista que defende Palocci, o episódio de Ribeirão ¿mais uma vez demonstra que a delação premiada consubstancia uma ferramenta de pressão que pode levar a injustiças clamorosas quando se quer perseguir alguém a qualquer preço¿. Batochio reiterou que ¿não existe um único indício de irregularidade na administração Palocci¿ e assegurou que o ex-ministro não tinha conhecimento da retratação de Buratti. ¿Se houver represálias a Buratti, com fabricação de novas acusações, vamos buscar a responsabilização com o máximo critério.¿

MANOBRA

¿A retratação é brincadeira de mau gosto, manobra para tentar inocentar envolvidos em crimes, principalmente o ex-ministro¿, insistiu o delegado Valencise. ¿Ou eles (Buratti e Palocci)se compuseram ou (Buratti) está sendo coagido.¿

Segundo o policial, tudo o que Buratti denunciou, em troca da liberdade, foi comprovado pelas investigações. ¿Buratti vinha depor e dizia que tinha medo de perseguições e retaliações, medo de ser assassinado. Ele depôs diversas vezes, mediante compromisso. Será ouvido em juízo e se negar o que revelou há quase três anos estará incorrendo em crime de falso testemunho.¿

O inquérito do lixo está no Supremo Tribunal Federal. ¿Não pega essa história de intimidação que ele imputa aos promotores e à polícia¿, insiste Valencise. ¿Sempre se dispôs a colaborar, jamais foi pressionado. É muito cômodo, depois de mais de dois anos, falar em coação.¿

¿Essa declaração não tem valor¿, afirmou o promotor de Justiça Aroldo Costa Filho, da força-tarefa que investigou Palocci. ¿A palavra dele foi o início da investigação. Tudo está provado. A simples modificação da versão não vai alterar as provas sobre o esquema do lixo.¿

¿Essa manifestação é unilateral, não foi colhida na presença do Ministério Público¿, advertiu Aroldo. ¿Acredito que o STF não vai tomar decisão com base exclusivamente nessa declaração.¿ Ele informou que Buratti está sob investigação também por lavagem de dinheiro e será intimado.

Links Patrocinados