Título: No Brasil, tensão leva preocupação a Exército
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2008, Internacional, p. A12

Caso provaria necessidade de reequipar Forças Armadas

A crise militar entre Colômbia, Venezuela e Equador entrou em regime de emergência na pauta da reunião do Alto Comando do Exército brasileiro que começa hoje em Brasília e vai durar dois dias. Inicialmente, a reunião tinha sido convocada para tratar apenas das promoções dos oficiais-generais de 31 de março. Uma parte do encontro sempre é dedicada a avaliações das conjunturas interna e externa.

Um general disse ontem ao Estado, sob condição de anonimato, que o problema das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a instabilidade geopolítica envolvendo Colômbia, Equador e Venezuela será o assunto da análise externa.

Enquanto a diplomacia exige um pedido de desculpas por causa da invasão do território equatoriano pelas Forças Armadas da Colômbia, o Exército brasileiro, por já ter enfrentado, mais de uma vez, incursões das Farc na fronteira, preocupa-se com o fato de que a guerrilha tinha uma base de apoio no Equador. O outro foco de preocupação, segundo fontes do Exército, é a ¿intimidade militar e financeira¿ do governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, com a guerrilha colombiana.

O Exército brasileiro tem no currículo, entre outros, pelo menos um confronto direto e histórico com as Farc, na fronteira do País com a Colômbia, em 1991, na região do Rio Traíra. Os guerrilheiros atravessaram a fronteira, atacaram o Destacamento Traíra, mataram três soldados, balearam outros quatro militares e roubaram armas e munição.

Dois dias depois da incursão das Farc, um pelotão brasileiro de forças especiais invadiu o território colombiano, atacou o acampamento do grupo, matou pelo menos sete guerrilheiros e recuperou todos os equipamentos roubados.

O conflito prova, segundo os militares brasileiros, que ninguém se arma, como Chávez vem fazendo, sem motivos concretos. Para o Exército, a forma como o presidente venezuelano determinou a movimentação das tropas para a fronteira com o Equador, aparentemente em resposta à morte do guerrilheiro Raúl Reyes, número 2 das Farc, mostra que o governo do presidente Lula precisa tratar o reequipamento das Forças Armadas como um caso de ¿fundamental importância para a soberania do País.¿ Os militares consideram, por isso, ¿um absurdo¿ a idéia de criação de um Exército sul-americano ou de um conselho militar das Forças Armadas da região.