Título: Quito rompe relações com Colômbia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2008, Internacional, p. A12

Equador suspende vínculos diplomáticos em resposta ao ataque militar da Colômbia lançado em solo equatoriano

Um dia após retirar seu embaixador de Bogotá e expulsar o embaixador colombiano em Quito, o Equador anunciou ontem o rompimento de relações diplomáticas com a Colômbia. Pouco antes, o governo do presidente Álvaro Uribe havia acusado tanto o Equador como a Venezuela de ter ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Em meio à pior crise diplomática entre os dois países, o presidente equatoriano, Rafael Correa, também enviou 3.200 soldados para a fronteira, no local onde forças de segurança colombianas mataram, no sábado, Raúl Reyes, o número 2 das Farc, e outros 16 rebeldes. ¿Não tivemos, não temos e não teremos nenhum vínculo com as Farc¿, disse o ministro da Defesa do Equador, Wellington Sandoval, acrescentando que o Exército do país está pronto para defender sua soberania.

Aliado do venezuelano Hugo Chávez, Correa refutou a acusação de Bogotá e qualificou o governo colombiano de ¿mentiroso¿, anunciando que tomará ¿medidas mais duras nas próximas horas¿ para responder à incursão ordenada por Uribe. ¿Estamos diante de uma situação extremamente grave, frente a um governo viciado e mentiroso que não quer a paz¿, disse Correa, que inicia hoje visita a Venezuela, Peru, Brasil, Panamá e República Dominicana para discutir a crise. ¿Eles sabiam que Raúl Reyes era o comandante que mais estava empenhado em uma solução pacífica para o conflito colombiano.¿ Quito também acusou o vizinho de agir para criar instabilidade política e militar em toda a região.

Segundo Correa, a incursão frustrou as negociações equatorianas para conseguir a libertação da ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt, seqüestrada em 2002 pelas Farc, e outros 11 reféns do grupo. ¿O acordo estava quase pronto.¿

Correa indicou ainda que Bogotá está tentando ¿envolver o Equador no conflito colombiano¿ para ¿desestabilizar o governo¿, mas disse que não deixará que isso aconteça. Ele também afirmou que a incursão colombiana afeta toda a região. O rompimento de relações diplomáticas com a Colômbia não prejudicará as negociações comerciais entre os dois países.

MENTIRAS

A Venezuela também negou as acusações da Colômbia de que tem ligações com as Farc e disse que Bogotá está tentando desviar a atenção, após a violação da soberania equatoriana. ¿Estamos acostumados com as mentiras do governo colombiano¿, disse o vice-presidente venezuelano, Ramón Carrizález.

A Venezuela expulsou ontem o embaixador da Colômbia em Caracas. As autoridades venezuelanas suspenderam o comércio bilateral com os colombianos, no Estado fronteiriço de Táchira, onde estão concentradas 70% das negociações comerciais entre os dois países. Segundo a Câmara de Comércio de Urenã, funcionários da alfândega restringiram o trânsito de mercadorias na área.

Os EUA pediram ontem à Colômbia e ao Equador para que busquem uma saída diplomática para a crise. Washington apoiou a ação militar de Bogotá, seu principal aliado na região e ao qual envia uma ajuda de cerca de US$ 700 milhões por ano. ¿Acreditamos que o modo pelo qual eles devem tratar a situação é por meio do diálogo diplomático¿, afirmou Tom Casey, porta-voz do Departamento de Estado.