Título: Brasileiros invadem o exterior. E as cadeias
Autor: Aranda, Fernanda; Grandin, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2008, Metrópole, p. C5

Em 12 anos, número de presos em outros países sobe de 921 para 4.020

O número de brasileiros presos no exterior aumentou mais de quatro vezes nos últimos dez anos. Levantamento feito pelo Ministério das Relações Exteriores mostra que até o início do ano passado 4.020 cidadãos do Brasil cumpriam pena em regime fechado em outros países. A quantidade de detidos supera em 336% os 921 registros de 1996. A população carcerária deve ser ainda maior, já que nem todos os governos fornecem essas informações.

Tráfico de drogas, prostituição, roubos e furtos são os principais motivos que levam os brasileiros a serem condenados, segundo o Itamaraty. O órgão relaciona o crescimento ao aumento da imigração. A população do Brasil residente no exterior saiu de 1 milhão para mais de 3 milhões no mesmo período.

Já os especialistas acreditam que a invasão das cadeias internacionais pelos brasileiros tem origens variadas, como a globalização do crime e a imigração ilegal. ¿O aumento reflete um lado obscuro da globalização. Um fenômeno que expandiu as fronteiras do comércio, da comunicação, da moda e do crime¿, compara a advogada Alessandra Teixeira, presidente da Comissão de Prisões do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim).

Outro fator influente nas estatísticas, ressalta Hélio Bicudo, presidente da Fundação Interamericana de Defesa de Direitos Humanos, é a imigração ilegal. Na avaliação do jurista, brasileiros nessa condição ficam mais vulneráveis à marginalidade. ¿São pessoas que topam todos os riscos de uma viagem clandestina em busca de uma vida melhor¿, afirma.

As declarações de Bicudo têm base nas estimativas de imigrantes do Brasil que vivem clandestinamente em outros países. Segundo o Itamaraty, mais da metade cruza as fronteiras de forma ilegal. Outro dado que reforça a influência da ilegalidade no número de prisões é o ranking de consulados que mais informam cidadãos do Brasil presos. A lista é encabeçada por Miami, com 1.200 presos, Madri (400 detidos), Nagoya (224) e Lisboa (201).

¿Há um estigma muito forte contra brasileiros, principalmente na Europa. Isso não fica restrito aos presos, é um problema enfrentado por qualquer imigrante ¿, diz o deputado Nelson Pelegrino (PT-BA), que foi acionado por familiares de uma mulher, natural da Bahia, que está detida em Portugal.

José Jesus Filho, da Pastoral Carcerária de São Paulo confirma o tratamento discriminatório nas penitenciárias. Ele está há um ano nos Estados Unidos para acompanhar presos brasileiros no país. ¿O tratamento fornecido aos brasileiros é o mesmo dispensado aos latinos. Eles são considerados presos de segunda categoria. Por exemplo, o preso com o qual tenho contato aqui, não recebe sempre a mesma alimentação que os americanos¿, diz.

ATRÁS DAS GRADES

Sonegação

Os líderes da Igreja Renascer, Sonia e Estevam Hernandes, cumprem pena de reclusão desde o ano passado nos EUA por 'contrabando de dinheiro'.

Eles foram presos no aeroporto de Miami, quando tentavam passar pelo setor de Imigração com mais de US$ 56 mil não declarados.

Atualmente, ela está presa e ele, em liberdade. O casal foi sentenciado a cumprir pena alternada

Prostituição

Acusada de controlar uma rede de prostituição, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, a capixaba Andréia Schwartz, de 32 anos, está presa há 20 meses em Nova York

Tráfico

Instrutor de vôo livre, o carioca Marco Archer Moreira, de 45 anos, aguarda sua execução na Indonésia. Foi condenado à morte por tráfico de drogas em 2003