Título: Anúncio surpreendeu a Fazenda
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2008, Economia, p. B1
Forma de divulgação foi vista como `ação de marketing¿
O anúncio histórico do Banco Central, de que o Brasil tornou-se credor externo em janeiro, surpreendeu até mesmo assessores do Ministério da Fazenda. A expectativa era que os ativos brasileiros em moeda estrangeira só ultrapassassem a dívida externa brasileira (pública e privada) em meados de março, com o aumento das reservas internacionais.
O que mais surpreendeu foi a decisão do BC de antecipar o anúncio, sem esperar a próxima divulgação das contas externas, marcada para segunda-feira. ¿O BC se antecipou na divulgação e ele não costuma se antecipar¿, disse uma fonte ouvida pelo Estado. ¿Sem dúvida, foi uma ação de marketing¿, completou a fonte, numa demonstração de que a forma de divulgação do estudo desagradou a equipe da Fazenda.
A expectativa anterior do governo era de fazer um anúncio oficial, quando esse momento histórico chegasse, provavelmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava ontem no Palácio do Planalto, em reunião sobre reforma tributária, quando o BC divulgou o informe. Só no meio da tarde, horas depois do anúncio, a Fazenda informou que Mantega daria uma entrevista, no Rio, para comentar o anúncio.
Apesar do incômodo da Fazenda, o Planalto sabia que o País estava perto de se tornar credor externo e não impôs precondições ao anúncio. Pelo contrário: Lula quer bater bumbo sobre o assunto nas 13 viagens nacionais e internacionais agendadas entre o fim deste mês e meados de maio.
Como o estudo do BC não deu mais detalhes sobre a redução da dívida externa líquida, os assessores do Ministério da Fazenda especularam sobre o motivo de o País já ter se tornado credor em janeiro. Uma das possibilidades é de que tenha havido cancelamento da dívida externa privada, só agora registrado pelo BC. O mercado, porém, não identificou nenhum movimento nessa direção. Há também outra possibilidade, de aumento de ativos do Brasil no exterior registrados pelo BC. Esses ativos têm crescido fortemente, nos últimos anos, com aquisições de empresas brasileiras no exterior.
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