Título: Para economistas, 'não é normal o Brasil ser credor externo'
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2008, Economia, p. B3

É como uma empresa sem dívida, compara Reis Velloso: isso só é bom num cenário de incertezas como o atual

A posição do Brasil como credor externo deve ser temporária. Ela é benéfica neste momento de crise externa, mas seria ruim se mantida permanentemente. A análise é do ex-ministro do Planejamento e organizador do Fórum Nacional, João Paulo dos Reis Velloso, e do pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e assessor econômico do senador Tasso Jereissati, Samuel Pessôa.

Para eles, não é natural para um país que precisa de recursos como o Brasil estar exportando poupança. ¿É um pouco estranho o Brasil ser credor¿, diz Pessôa. ¿Em teoria econômica, um país pobre como o nosso é devedor porque, para ser credor, precisa ter a poupança muito alta ou investimento muito baixo¿, disse o economista, atribuindo o fato, no caso brasileiro, ao investimento baixo.

¿Um país como o Brasil ser credor líquido é como uma empresa sem dívida: não é uma situação normal. Mas isso é bom com o ambiente internacional como está¿, diz Velloso. Ele acrescenta que ¿essa condição permite a gente não ficar preocupado quando há saída de hot money, como houve recentemente na Bolsa, do sujeito vender ação aqui para cobrir prejuízo na Bolsa de Nova York¿.

O ex-diretor de Política Econômica do Banco Central (BC) e sócio da Ciano Investimentos Ilan Goldfajn considerou ¿simbolicamente relevante¿ a transformação do Brasil em credor externo. ¿Mostra que uma crise externa não vai afetar a gente como antes.¿

Como Velloso, Goldfajn acredita que o superávit em conta corrente (resultado da balanças comercial e de serviços mais a conta de transferências unilaterais) dos últimos anos permitiu o aumento das reservas internacionais e a passagem da dívida externa líquida de positiva para negativa. Ele também acha que ¿é natural que vire um déficit, mas será pequeno e não será problema¿.

O ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e atual economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Bank, Alexandre Schwartsman, diz que ¿o relatório terá pouco impacto¿ no mercado. ¿É mais importante do ponto de vista do setor público, que já é credor da dívida externa desde abril de 2006.¿Ele acrescenta que o setor público ganha sempre que há um choque externo com efeitos no câmbio, já que a dívida não está mais atrelada à moeda estrangeira. ¿O relatório agrega pouco em informações, já que o é composto de dados conhecidos.¿ Mas ¿está longe de não ser relevante¿.

Tomás Málaga, economista-chefe do Itaú, avalia que o feito anunciado pelo BC é resultado de uma ação que começou há pelo menos cinco anos, quando o Brasil começou a ter superávits expressivos em conta corrente - que agrupa resultados da balança comercial e das transações de serviços e rendas com o exterior. Segundo ele, essa melhora permitiu ao Brasil passar deforma tranqüila pelo pior da crise internacional deflagrada nos Estados Unidos.

Para o futuro, Málaga não arrisca afirmar que o Brasil deve se manter na posição de credor. Ele acha provável que o endividamento externo do governo diminua nos próximos anos. Mas o mesmo não deve ocorrer com a dívida privada. ¿É natural que essa dívida aumente porque o setor privado tem tomado empréstimos no exterior para aumentar os investimentos e a capacidade produtiva no País. Isso é uma boa notícia¿, diz o economista.

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