Título: Dívida interna se mantém acima de R$ 1,2 trilhão
Autor: Fernandes, Adriana; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2008, Economia, p. B3

Recuo de só R$ 21 bi em janeiro mostra que ainda há muito o que avançar

A dívida interna do governo federal em títulos recuou R$ 21 bilhões em janeiro e ficou em R$ 1,204 trilhão. A queda foi determinada pelo resgate líquido de títulos (resgates menos emissões) de R$ 34,3 bilhões no mês passado, valor que superou o impacto de R$ 13,4 bilhões dos juros no estoque da dívida.

Apesar da queda, os dados - divulgados no mesmo dia em que o governo comemorou a superação do problema do endividamento externo - mostram que o Brasil ainda tem muito o que avançar na dívida interna, considerada o maior entrave para a chegada do grau de investimento, mesmo com a melhora dos últimos anos.

Em janeiro, apesar da queda no estoque, o pagamento de R$ 13,4 bilhões em juros foi o maior desde agosto de 2007, e ficou acima da média do ano passado.

O impacto do juros reflete uma dívida ainda elevada e um custo médio que tem trajetória lenta de queda. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, esse custo atingiu 12,8% ao ano, ficando acima da média da taxa básica de juros, que no mesmo período foi de cerca de 11,7%.

Atualmente, a taxa Selic está em 11,25% ao ano, ante 13% em janeiro de 2007, ou seja, o custo médio está próximo da taxa de um ano atrás.

O custo mais alto da dívida é o resultado da combinação de uma das taxas básicas mais altas do planeta e do processo de mudança no perfil da dívida, que, em troca de maior segurança na administração do endividamento, trouxe, em contrapartida, custos mais elevados aos cofres públicos.

Nos últimos anos, o Tesouro ampliou a colocação de papéis prefixados (com rentabilidade fixa, definida no momento da venda) e atrelados a índices de preços, considerados de melhor qualidade por serem mais previsíveis. Para ter uma redução no risco de financiamento interno, porém, o governo pagou mais caro.

Mas em janeiro o processo de melhora no perfil teve uma reversão, motivada por fatores pontuais. Como tradicionalmente há uma forte concentração de vencimentos dos prefixados neste mês, a parcela desses papéis no estoque da dívida caiu para 34,9% do total, ante 37,3% em dezembro. ¿O volume de resgate está em linha com a nossa estratégia¿, afirmou o coordenador-geral de operações da dívida pública, Guilherme Pedras.

Ao mesmo tempo, os títulos vinculados à taxa Selic, considerados ruins porque têm custo imprevisível, subiram de 33,4% para 34,8%. Ponto de melhora foi o aumento na participação dos títulos vinculados à inflação, que passaram de 26,3% para 27,2%. Segundo Pedras, na últimas semanas tem havido um aumento na procura por papéis indexados à inflação, as NTN-B.

A parcela de títulos a vencer em até 12 meses, um dos pontos de observação atenta pelas agências de classificação de risco, teve uma alta significativa em janeiro, passando para 32,79% do total. Em dezembro, essa fatia foi de 30,15%. Já o prazo médio da dívida interna, outro indicador importante, melhorou, passando de 36,47 meses para 37,61 meses. Segundo a nota do Tesouro, isso também ocorreu por causa do resgate líquido de papéis prefixados, que têm prazo mais curto.