Título: Dólar tem o menor valor em quase 9 anos
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2008, Economia, p. B4
Moeda americana recua 0,75% e chega a R$ 1,711; na avaliação de analistas, tendência para o real ainda é de valorização
A informação de que as reservas internacionais brasileiras já cobrem a dívida externa total do País, divulgada ontem pelo Banco Central (BC), ajudou o real a se valorizar ante o dólar pelo quarto dia seguido. A moeda americana fechou em baixa de 0,75%, cotada por R$ 1,711, menor valor desde 26 de maio de 1999. A quinta-feira, aliás, foi negativa no mundo todo para o dólar. O euro, por exemplo, subia 0,70% em relação à moeda americana no início da noite de ontem, para US$ 1,4815.
Segundo analistas, a tendência para o real ainda é de valorização. Basicamente por quatro fatores. O primeiro deles está relacionado à alta de preços, no mercado internacional, das principais commodities que o País exporta. O segundo é o diferencial da taxa básica de juros brasileira em relação à dos países desenvolvidos.
Em terceiro lugar, as perspectivas para o investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil em 2008 são bastante positivas. Por fim, há uma tendência global de desvalorização do dólar, por causa do enfraquecimento da economia dos Estados Unidos e da conseqüente redução dos juros naquele país.
O economista da Tendências Consultoria Leonardo Miceli lembra que, no fim do ano passado, havia uma expectativa grande em relação ao desaquecimento da economia americana e seu potencial impacto sobre os preços das commodities. Mas em janeiro, apesar das fortes turbulências dos mercados, as cotações dessas commodities mantiveram a trajetória ascendente.
O farelo de soja, por exemplo, ganhou 7% em janeiro. O óleo de soja, 11,3%. Há, ainda, o expressivo reajuste dos preços do minério de ferro exportado pela Vale, na casa de 65%. Só esse item, diz Miceli, respondeu por 6,6% das exportações em 2007, que totalizaram US$ 160 bilhões.
Com isso, diz o economista, o saldo da balança comercial em 2008 pode ser maior do que o previsto anteriormente. A Tendências projeta US$ 33,4 bilhões. ¿Vale ressaltar que essa ainda não é a aposta majoritária do mercado, que prevê um saldo ao redor de US$ 25 bilhões¿, observa Miceli.
A taxa básica de juros brasileira (Selic), em 11,25% ao ano, ainda se mantém no pódio das mais altas do planeta. A dos Estados Unidos está em 3% ao ano e a da zona do euro, em 4% ao ano. O economista Francisco Carlos Pessoa Faria Jr., da LCA Consultores, observa que essa diferença estimula o investimento externo em papéis brasileiros, o que ajuda a valorizar o real. ¿Por que, nessas condições, um investidor não colocaria dinheiro aqui?¿, indaga.
O papel da taxa de juros na alta da moeda brasileira é uma das grandes polêmicas da atualidade entre os analistas. Uma parte deles acredita que é fundamental para essa tendência. Outra parte minimiza sua importância. Um modelo matemático da LCA prevê que, para cada ponto porcentual de redução no diferencial entre o juro brasileiro e o americano, é de se esperar uma valorização de 1% do dólar ante o real.
Ou seja, se a diferença que hoje é de 8,25 pontos porcentuais caísse para 7,25 pontos porcentuais, ocorreria, segundo o modelo, uma alta de 1% do dólar. ¿Mas isso se todo o resto ficasse constante¿, ressalta Faria Jr. ¿Se a Selic diminuísse, provavelmente teríamos algum estímulo para a economia e as importações aumentariam. Assim, haveria uma pressão adicional sobre a taxa de câmbio.¿
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, acrescenta que o IED em 2008 continuará robusto, e cobrirá com folga o provável déficit em conta corrente do País no ano. Ele esperava um investimento externo neste ano inferior aos quase US$ 35 bilhões de 2007, mas admite rever a projeção para cima. O saldo negativo nas transações correntes previsto por ele está em US$ 9 bilhões.
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