Título: Parlamentares criticam lista de carne para UE
Autor: Salvador, Fabiola
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2008, Negócios, p. B18
Para senadora, escolher apenas 300 fazendas aptas a exportar para a Europa é um `acinte¿
Poucos dias antes do início da vistoria que veterinários europeus farão em fazendas brasileiras, parlamentares reagiram ontem à decisão do governo de aceitar a exigência da União Européia (UE) e apresentar uma lista de apenas 300 propriedades que cumpram as regras de rastreabilidade exigidas pelos 27 países do bloco. ¿Sou contra o sistema de listas da UE. Essa lista é um acinte à pecuária brasileira. São 24,5 mil propriedades e você tem de escolher 300 fazendas. Isso é um absurdo¿, afirmou a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).
A senadora leu ontem no Plenário do Senado um manifesto assinado por 76 dos 81 senadores. O manifesto pede que o governo tome providências na Organização Mundial do Comércio (OMC) ¿no sentido de resguardar os direitos e interesses comerciais do nosso País¿. ¿Essa é uma posição suprapartidária¿, disse a senadora. O manifesto será encaminhado pelo presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), para a Presidência da República e para os ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores.
Na Câmara, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) criticou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que, segundo ele, aceitou a proposta da UE de seleção de fazendas. Segundo Caiado, o ministro ¿não fala mais pela classe (dos ruralistas)¿. ¿Ele está em descrédito¿, completou. Em relação à lista que será apresentada aos europeus na segunda-feira, Caiado disse que o caminho para o pecuarista que não for selecionado é a Justiça. ¿Se as fazendas estão credenciadas a exportar, não pode haver lista¿, disse.
Caiado é autor de um projeto de decreto legislativo para derrubar as atuais regras do Sisbov, o sistema de rastreabilidade do gado, e de um projeto de resolução para suspender os acordos bilaterais Brasil-UE enquanto durar o embargo à carne brasileira, decretado pelos europeus no início deste mês.
O embargo foi discutido ontem na Câmara, onde parlamentares e representantes da iniciativa privada formaram um grupo de trabalho para discutir as linhas de um projeto de lei para criar um novo modelo de rastreabilidade para o rebanho bovino. O descumprimento das regras de certificação foi o motivo que fez a UE suspender as importações de carne do Brasil.
Apesar de admitir as falhas do sistema de rastreabilidade, outros parlamentares saíram em defesa de Stephanes. ¿Ele pegou o processo já em andamento¿, disse o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS). Presente ao debate, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto, reiterou as críticas ao governo, que já tinha feito na semana passada.
De acordo com ele, o ministério não tem mais credibilidade para negociar com as autoridades européias. ¿Foram muitas promessas não cumpridas¿, afirmou Camargo Neto, que é pecuarista. A crise, acrescentou, é resultado de anos de desastres. O dirigente disse que o Sisbov ¿nasceu errado¿ e que outros erros foram cometidos nos últimos anos. ¿São cinco ou seis anos de desacertos.¿
O presidente da Abipecs ressaltou que há três anos a UE vinha alertando o Brasil que as regras de rastreabilidade do gado não estavam sendo cumpridas. ¿Eles nos deram a enésima chance. Espero que a lista que será entregue na segunda-feira esteja certa. O governo não pode entregar uma lista e depois voltar atrás. O Ministério da Agricultura tem errado muito¿, disse ele.
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