Título: Energia é maior desafio do governo argentino
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2008, Economia, p. B3

Cristina busca socorro junto a Evo, Chávez e Lula

Ariel Palacios, BUENOS AIRES

A presidente Cristina Kirchner terá nas próximas semanas uma agenda internacional carregada, com foco nas formas de driblar a crise energética que afeta o país e constantemente ameaça desacelerar o crescimento econômico.

Sexta-feira, ela receberá na capital argentina o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem discutirá uma extensa lista de assuntos, entre eles a integração energética. No dia seguinte, ambos os presidentes se reúnem com o presidente da Bolívia, Evo Morales, para discutir as dificuldades que seu governo enfrenta para garantir o abastecimento de gás que tanto o mercado argentino como o brasileiro necessitam para 2008.

No dia 5 de março, Cristina viajará a Caracas, Venezuela, para assinar acordos com o presidente Hugo Chávez, que permitirão que a Argentina possa trocar alimentos por combustível venezuelano.

Cristina está correndo contra o relógio, de forma a garantir energia por mais um ano. Enquanto isso, tenta aplicar um plano de redução de consumo de energia elétrica que até agora não conseguiu o apoio da população. Em janeiro, primeiro mês do programa, os argentinos consumiram mais do que no mesmo mês de 2007.

No encontro com o presidente Lula, além de conversar sobre um eventual acordo com a Embraer, para que a empresa passe a administrar a Fábrica de Aviões de Córdoba (uma parceria sonhada por Cristina desde seu primeiro comício eleitoral, em julho de 2007), e analisar as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), a presidente argentina pretende avançar nas discussões sobre a futura construção da usina hidrelétrica binacional de Garabi, que seria localizada sobre o rio Uruguai, na fronteira entre os dois países.

Garabi, que levaria ao menos cinco anos para ser construída, implicaria investimentos entre US$ 1,5 bilhão e US$ 1,7 bilhão. A hidrelétrica aumentaria a potência energética argentina em 9%.

Cristina também está interessada na reativação do plano da hidrelétrica binacional de Corpus, sobre o Rio Paraná, projeto que data dos anos 70 e jamais foi sequer iniciado. Essa hidrelétrica é binacional com o Paraguai. Mas os argentinos estão interessados há anos no eventual investimento brasileiro na obra (que poderia contar com empreiteiras do Brasil).

O caso de Corpus foi discutido recentemente com o presidente Lula e a presidente Cristina por um dos principais candidatos presidenciais do Paraguai, o general Lino Oviedo, que demonstra grande interesse pela construção da usina.

No dia seguinte, sábado, Lula e Cristina se reunirão com o presidente Evo Morales, que irá especialmente à Buenos Aires para discutir pessoalmente com seus colegas a impossibilidade de poder cumprir o convênio assinado há dois anos, segundo o qual enviaria 7,7 milhões de metros cúbicos de gás por dia à Argentina.

Sem capacidade para concretizar essas remessas, Evo envia ao mercado argentino somente 3 milhões de metros. Para Cristina, essa redução é angustiante, já que a demanda de gás aumenta sem parar.

O cenário, sem o gás boliviano, promete uma nova crise de escassez de energia no próximo inverno para os argentinos. O vice-presidente boliviano, Alvaro García Linera, afirmou na semana passada que, apesar da crescente demanda brasileira, seu país não poderá remeter ao Brasil mais do que os 29 milhões de metros cúbicos diários que atualmente envia. Os três presidentes se reunirão na residência oficial de Olivos para discutir como o gás boliviano será dividido entre os países.

Cristina pretende garantir todos os flancos possíveis, de forma a suavizar ao máximo as chances de uma nova crise energética, como a que afetou o país no inverno do ano passado e desacelerou o crescimento industrial. Para isso, no dia 8 de março, ela viajará a Caracas, onde se reunirá com o presidente Hugo Chávez para assinar uma série de acordos que determinam a troca de alimentos feitos na Argentina por combustível venezuelano.

O diesel da Venezuela tornou-se crucial nos últimos anos para abastecer as termoelétricas argentinas, que sofrem o desabastecimento de gás. A Argentina enviaria à Venezuela carne, trigo e laticínios, para reduzir a escassez de alimentos nesse país. Esses acordos bilaterais equivaleriam a um comércio de US$ 250 milhões a US$ 300 milhões neste ano. Desde que Cristina assumiu a presidência, vários apagões já ocorreram no país.

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