Título: A aposta dos empresários
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Notas & Informações, p. A3

S e depender da boa disposição do setor produtivo, a economia brasileira continuará em firme expansão nos próximos anos. Cresce o número de empresas com planos de ampliação da capacidade por meio de investimentos em máquinas, equipamentos e instalações. Em janeiro e fevereiro, 115 companhias anunciaram projetos no valor total de R$ 89,8 bilhões, segundo levantamento do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. A confiança dos empresários vem sendo demonstrada pela crescente procura de bens de capital nacionais e importados. Os novos números apontados por essa pesquisa, no entanto, devem surpreender até os mais otimistas. O valor anunciado é 46% superior ao do primeiro bimestre de 2007 e o contingente de empresas é 89% maior.

Segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a instituição tem uma carteira de projetos aprovados no valor de R$ 100 bilhões. Ainda não há como saber, evidentemente, qual será o ritmo dos desembolsos nos próximos meses, mas não seria surpresa se o orçamento para 2008, de R$ 80 bilhões, se revelasse insuficiente. Coutinho não se mostra preocupado em relação às operações deste ano. O banco, segundo ele, terá condições de levantar mais dinheiro se for necessário. Numa entrevista ao Estado, ele classificou como desafio, no entanto, a tarefa de levantar fundos nos próximos anos para continuar apoiando os projetos de expansão tanto da capacidade industrial como da infra-estrutura. Entre os projetos de investimento aprovados nos últimos meses, segundo o presidente do BNDES, há vários vinculados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O investimento brasileiro deve ter crescido 13% no ano passado e poderá expandir-se mais 10% neste ano, segundo estimativas correntes no setor financeiro e citadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada. De acordo com o ministro, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter-se expandido entre 5,2% e 5,3% em 2007. A primeira estimativa oficial deve ser divulgada amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Seja qual for o crescimento apurado, conhecemos de antemão dois pormenores desse levantamento do IBGE. Um deles é uma robusta expansão do consumo privado, sustentada pelo crescimento do emprego e pela melhora dos orçamentos familiares. O outro é uma forte ampliação do investimento em máquinas, equipamentos e instalações.

Esse investimento, mencionado nas contas nacionais como formação bruta de capital fixo, deve ter sido o principal componente da expansão do PIB. O grande aumento dos gastos em bens de produção, disse o ministro, abre espaço para o crescimento sustentável, isto é, para uma expansão econômica sem grandes pressões inflacionárias e sem gargalos nas contas externas.

Em tese, o ministro está certo. A ampliação e a modernização do sistema produtivo - pois não se trata apenas de compra de máquinas, mas também de renovação - elevam o potencial de crescimento da economia brasileira, um dado sempre levado em conta pelas autoridades monetárias quando tomam decisões sobre os juros.

Mas não basta o setor empresarial aumentar sua capacidade produtiva. A eficiência empresarial e o poder de competição das indústrias e da agropecuária dependem também de fatores externos aos muros das fábricas e às cercas das fazendas. A competitividade é um atributo nacional e não apenas empresarial.

O sistema logístico - rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos e armazéns - também faz enorme diferença, assim como a disponibilidade de energia e de meios de comunicação. Os projetos do PAC, embora tenham começado a sair do papel, continuam sendo realizados muito lentamente e é preciso acelerar sua execução. Isso depende principalmente do governo e não do setor empresarial.

Quando se levam em conta esses fatores, não há como descartar o risco de gargalos nos próximos anos. Os empresários estão fazendo sua parte, investindo na ampliação da capacidade de produção de suas companhias. E, ao investir, estão apostando na capacidade do governo de cumprir seu papel, acelerando a execução do PAC e removendo outros obstáculos materiais e institucionais ao crescimento da produção.