Título: Ruralistas mudam estratégia
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Nacional, p. A7

Bancada quer evitar confrontos para ganhar espaço

A bancada dos ruralistas na Câmara vai mudar sua estratégia. A intenção é, a partir de agora, evitar o confronto direto e buscar espaços no Congresso para, posteriormente, estender o debate para o Executivo, que na avaliação de seus integrantes desde o ano passado vem tomando medidas ¿unilaterais¿.

Na semana passada, dois de seus deputados conseguiram, depois de intensa negociação com os partidos, vagas na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. O ex-presidente da Comissão de Agricultura Marcos Montes (DEM-MG) será titular. Homero Pereira (PR-MT), que presidiu a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e é um dos defensores do agronegócio da soja no Congresso, ficou como suplente.

¿Quero ser ouvido e acredito que lá será mais fácil¿, contou Pereira. Mato Grosso está no centro das discussões sobre produção de alimentos e preservação ambiental. Ele disse que sua proposta é ¿equilibrar¿ os debates. ¿Não queremos posições unilaterais.¿

Na visão da bancada, a primeira medida unilateral é a obrigatoriedade de recadastramento das grandes propriedades rurais dos 36 municípios campeões de desmatamento até julho. Os produtores alegam que não encontram empresas para fazer o trabalho nesse prazo. ¿O governo não está levando em conta as limitações de logística que cada município tem¿, reclamou o atual presidente da Famato, Rui Prado. Outra medida que desagradou aos produtores foi a exigência adicional para a concessão de crédito rural na Amazônia, como determinou o Conselho Monetário Nacional (CMN) em fevereiro.

Montes, porém, acha mais importante pensar para a frente. As novas regras do Código Florestal são prioridade. O projeto, de 2001, parou na Comissão de Meio Ambiente há pelo menos 3 anos. Moacir Micheletto (PMDB-PR), o relator, considera alguns pontos ultrapassados e vai procurar deputados ligados ao meio ambiente para negociar. ¿Só com a definição de regras acabaremos com o samba do crioulo doido dos últimos tempos. O presidente Lula e o CMN estão mandando num assunto que é de competência do Congresso.¿

O presidente da comissão, André de Paula (DEM-PE), acredita no entendimento e disse que cobrará definições principalmente dos ambientalistas. ¿Eles ficam só brigando, não chegam a lugar nenhum. Precisamos agir. Alguns apostam na inércia. Não podemos só ficar imaginando que o Éden é possível.¿