Título: MST pára estrada de ferro da Vale
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Nacional, p. A8
Empresa afirma que 2.500 pessoas foram prejudicadas com a invasão
Manifestantes do Movimento dos Sem-Terra (MST), da Via Campesina e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) invadiram e obstruíram ontem, durante 12 horas, os trilhos da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), em Resplendor, a 445 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce mineiro. Conforme a Polícia Militar, a ocupação teve início às 5 horas e só terminou por volta de 17 horas, após o juiz substituto Braulino Corrêa Neto conceder liminar de reintegração de posse em pedido feito pela mineradora.
A ação levou à paralisação do transporte de passageiros e carga da ferrovia, que possui 905 quilômetros de extensão e corta 51 municípios em Minas e no Espírito Santo. A Vale alegou que a invasão de ontem prejudicou cerca de 2,5 mil pessoas, atendidas por dois trens que partem diariamente de Vitória e Belo Horizonte, passando por 29 cidades. Cerca de 300 mil toneladas de minério deixaram de ser transportadas.
O maquinista de um trem cargueiro foi impedido pelos manifestantes de deixar o local da ocupação, mas a PM informou que não foram registradas agressões ou atos de violência. A Vale alegou em nota que os manifestantes arrancaram placas de sinalização da ferrovia e jogaram pneus sobre a linha.
Enquanto a polícia informou que cerca de 600 pessoas - a maior parte mulheres, incluindo crianças - participaram da invasão, o MST disse que ¿mais de mil mulheres da Via Campesina¿ de Minas e do Espírito Santo participaram da ação.
Os manifestantes disseram que a construção da Barragem de Aimorés, pela Vale e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), iria ¿inviabilizar o sistema de esgoto da cidade, inundando dois mil hectares de terra¿.
Segundo comunicado veiculado pelo MST, a ocupação da estrada de ferro integra a jornada nacional das mulheres da Via Campesina, ¿que denuncia o modelo que privilegia o agronegócio, em detrimento da agricultura familiar e impede a realização da reforma agrária¿.
A nota acusa ainda a Vale de ser uma das principais responsáveis pela destruição do meio ambiente em Minas e pela concentração de terras, por meio do plantio de eucalipto em larga escala.
ILEGALIDADE
Além de conceder a liminar de reintegração de posse, o juiz substituto de Resplendor expediu interdito proibitório quanto à possível invasão e ocupação de algum outro ponto da ferrovia. No despacho ele observa que não havia nenhuma dúvida sobre a ¿ilegalidade da ocupação¿.
De acordo com o juiz, ¿o ordenamento jurídico brasileiro não elegeu a paralisação dos meios de transporte como forma legítima de pressão¿. Ele destacou, também, que o bloqueio da linha e o impedimento do tráfego impôs ¿elevado prejuízo¿ à Vale, ¿de difícil reparação¿.