Título: Dólar preocupa, diz Meirelles
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Economia, p. B4

Para presidente do BC, mercados de câmbio estão muito voláteis, e a situação dos EUA está se deteriorando

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitiu que a desvalorização do dólar ¿é preocupante¿ e a situação da economia dos Estados Unidos está se deteriorando. ¿Os mercados (de câmbio) estão muito voláteis, e isso é certamente algo preocupante. Não há dúvida de que a situação do dólar é preocupante¿, disse Meirelles, ao concluir dois dias de reuniões com os presidentes de BCs de todo o mundo na Basiléia para debater o cenário internacional. O Banco Central Europeu (BCE) também atacou a desvalorização do dólar, alertando que uma moeda forte seria de interesse do próprio governo americano.

Meirelles, porém, negou que o problema seja com o real, e preferiu não dar sugestões aos exportadores, que sofrem com a mudança no câmbio. Questionado se o Brasil tomaria alguma medida para evitar a volatilidade e a valorização, o presidente do BC manteve a discrição. ¿O importante é manter políticas adequadas e sólidas. O problema do dólar é um problema dos Estados Unidos e mundial. Não é um problema relacionado especificamente ao real, mas a todas as moedas. É um problema global.¿

Para ele, seria prematuro falar em queda das exportações brasileiras para os Estados Unidos. ¿Hoje, exportamos menos para os Estados Unidos - apenas cerca de 15% de nossas vendas. Além disso, os preços das commodities ainda estão muito fortes¿, afirmou.

Meirelles reconheceu que a situação vivida hoje nos Estados Unidos não é fácil. ¿Não há dúvida que a situação americana hoje é mais séria que há 60 dias.¿ Mas evitou classificar o cenário de uma recessão. ¿O quadro é de bastante incerteza e demanda a atenção de todos os bancos centrais.¿

Na avaliação do BC brasileiro, os países mais vulneráveis e os primeiros que seriam atingidos por uma recessão são aqueles que têm grande parte do Produto Interno Bruto (PIB) ligada à economia americana. ¿Os grandes países emergentes estão com mercados domésticos fortes e em expansão. O Brasil é o melhor exemplo e tem as melhores condições de absorver o potencial problema de exportação aos EUA, que sempre tem conseqüências tão graves.¿

Ontem, as autoridades monetárias da Europa também deixaram claro que não estarão dispostas a bancar um dólar fraco, e alertaram Washington para que tome medidas a fim de evitar uma desvalorização ainda maior da moeda americana em relação ao euro. ¿A excessiva volatilidade (do dólar) é indesejável para o crescimento da economia diante das atuais circunstâncias¿, disse o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.

Os comentários fizeram com que o euro recuperasse algum terreno durante o dia de ontem. Mas a relação entre as duas moedas atingiu níveis sem precedentes nos últimos dias. Exportadores europeus temem que a desvalorização do dólar acabe freando a competitividade do bloco no mercado internacional. ¿Estamos preocupados com o excessivo movimento das taxas de câmbio¿, disse Trichet, alertando que os BCs teriam de continuar ¿extremamente atentos¿ às tendências.

Na prática, Trichet deu um recado aos americanos. O desequilíbrio nas contas comerciais dos EUA não poderá ser resolvido apenas com uma desvalorização do dólar, já que isso afetará outras economias.