Título: Problemas com bancos americanos abalam mercados
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Economia, p. B5
Bovespa acompanhou nervosismo externo e caiu 3,02%; Nos EUA, Dow Jones recuou 1,29% e o Nasdaq, 1,95%
Rumores sobre a deterioração da saúde financeira de instituições americanas voltaram a abalar o ânimo dos investidores e derrubaram as bolsas de valores do mundo inteiro. O mau humor ganhou força já no início da manhã, com especulações de que o Bear Stearns, um dos maiores bancos de investimentos de Wall Street, estaria com problemas de liquidez. O presidente do conselho da instituição, Alan Greenberg, correu para desmentir os boatos e afirmar que o rumor de quebradeira era ¿totalmente ridículo¿.
A declaração teve efeito limitado no mercado, já que pouco tempo depois a Moody¿s rebaixou a nota de alguns títulos lastreados no mercado americano de hipotecas emitidos pelo banco. Resultado disso foi uma queda generalizada no mercado acionário mundial. Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 1,29%, o Nasdaq, 1,95% e o S&P, 1,28%.
No Brasil, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) acompanhou o nervosismo externo e fechou em forte queda de 3,02%. O risco país subiu 2,93, para 281 pontos, e o dólar avançou 1,31%, cotado em R$ 1,706, também refletindo o déficit da balança comercial brasileira na primeira semana de março. ¿O déficit da balança não era uma notícia que o mercado queria ver agora. Mas essa notícia só ganhou repercussão maior porque o ambiente já estava nervoso. Sozinha, não teria força para mexer tanto com os ativos¿, disse o economista da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
Segundo ele, o maior problema do mercado financeiro hoje é que ninguém sabe a magnitude dos prejuízos provocados pelo mercado imobiliário americano. ¿Isso deixa todo mundo com os nervos à flor da pele.¿
Além do Bear Sterns, notícias sobre duas outras instituições agiram para azedar ainda mais o humor dos investidores. Uma delas veio do americano Lehman Brothers, que anunciou ontem a demissão de 5% de sua força de trabalho, ou 1.425 funcionários, em todas as suas empresas e nas regiões em que opera, por causa do aprofundamento da crise nos mercados financeiros.
Para completar, o Carlyle Capital Corporation (CCC), um dos maiores fundos de private equity do mundo, solicitou um acordo de paralisação a seus credores, após alguns deles terem liquidado quase um quarto do fundo de US$ 21 bilhões de ativos garantidos por hipotecas residenciais, listado em Amsterdã.
¿O comentário do mercado é que a exposição dos bancos no mundo no mercado subprime é de US$ 500 bilhões. Até agora, os prejuízos anunciados já somam cerca de US$ 200 bilhões. Ou seja, ainda pode vir muita coisa pela frente¿, destaca a economista da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro. Ela alerta que, quanto maior o prejuízo, maior o aperto no crédito e maior o risco de recessão nos Estados Unidos.
Os economistas acreditam que a oscilações dos ativos deve permanecer durante toda a semana. Os investidores ficarão de olho nos indicadores americanos previstos para esta semana, como o número de vendas no varejo, na quinta-feira, e o CPI, índice de preço mais importante dos Estados Unidos, na sexta-feira, destaca o economista da MCM Consultores, Antônio Madeira. ¿O mercado vive de ondas. Agora é a do risco de deterioração da saúde financeira dos bancos de investimentos¿, destaca.
No mercado doméstico, o que pode amainar os ânimos exaltados dos investidores por causa do cenário americano é a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2007, na quarta-feira.