Título: Ações da Vale em queda dificultam acordo de compra da Xstrata
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2008, Negócios, p. B15

De acordo com o `Wall Street Journal¿, negócio tem chances cada vez menores de ser fechado

A queda no preço das ações da Vale desde o final do ano passado vem tornando cada vez mais difícil o acordo para a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata. De acordo com uma fonte citada pelo Wall Street Journal, as chances atuais de o negócio sair são ¿bem pequenas¿. ¿A sensação é que o negócio está derrapando¿, disse.

O grande problema é que a oferta informal feita pela Vale pressupõe parte do pagamento em dinheiro e parte em troca de ações. Porém, a queda das ações da Vale já reduziu, segundo o jornal, em pelo menos US$ 10 bilhões a oferta pela Xstrata, que chegaria a cerca de US$ 90 bilhões. As ações da Vale na Bolsa de Nova York caíram cerca de 15% desde o final de fevereiro, seguindo um movimento que se iniciou ainda em janeiro, quando a empresa confirmou que estava em negociações com a Xstrata.

Além dos problemas de preço, as negociações enfrentam ainda a exigência da trading Glencore, maior acionista da mineradora anglo-suíça, de manter direitos sobre a comercialização de minérios que atualmente detém. A Glencore, que tem 35% da Xstrata, construiu um negócio de rara solidez por meio de suas ligações com a companhia e não quer abrir mão disso.

A mineradora brasileira fez inicialmente uma abordagem informal à Xstrata no valor de £ 40 por ação, mas essa oferta foi rejeitada, segundo informações do Financial Times. A proposta teria sido então elevada para £ 45 por ação. No final de fevereiro, o presidente da Vale, Roger Agnelli, disse que a companhia havia chegado ao limite na proposta e que o desfecho do negócio estaria agora nas mãos da sua principal acionista.

Se as duas empresas não puderem aparar suas diferenças, isso seria, segundo o Wall Street Journal, um sinal de que a turbulência nos mercados financeiros globais está tendo um impacto maior do que se esperava no ambiente dos acordos de fusões e aquisições. O setor minerador, beneficiado pela elevação dos preços de matérias-primas como cobre e minério de ferro, vinha sendo um dos poucos pontos brilhantes num mercado de compras de empresas sitiado pelo declínio na disponibilidade de crédito e no crescimento econômico mundial.

Além do possível acordo entre a Vale e a Xstrata, a anglo-australiana BHP Billiton, maior mineradora do mundo, tenta comprar a rival Rio Tinto, também anglo-australiana, numa operação que poderia ultrapassar os US$ 140 bilhões e criar um conglomerado global de mineração ainda maior. A Rio Tinto rejeitou sucessivas ofertas da BHP, que agora planeja apelar diretamente para os acionistas da rival.

Agnelli deixou claro, na apresentação do balanço da Vale, que as dificuldades de se fechar o negócio não eram apenas relacionadas a preço. ¿Não é só preço. A questão toda é de alguns princípios (de estratégia) que você tem de como tocar o negócio. E quando você bate numa questão de princípio, eu acho que todo mundo tem limite. Acho que a Glencore tem o limite dela, respeitamos, entendemos, é uma empresa de extraordinário sucesso. Os acionistas da Xstrata têm o limite deles, que fundamentalmente é preço. Para nós é preço e questão de princípios¿, afirmou.

O executivo disse ainda que, apesar das negociações com a Xstrata, a principal preocupação da empresa é com o crescimento orgânico (sem aquisições). ¿Quero deixar claro o seguinte: isso não é prioridade para a Vale. A prioridade é tocar seus projetos e em qualquer conta que a gente possa vir a fazer é mais barato a gente tocar os nossos projetos¿, afirmou. Agnelli afirmou ainda que a Vale também estudava a possibilidade de compra de outras empresas, mas não citou nomes.