Título: Gabrielli não crê em retaliação do país vizinho
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2008, Economia, p. B3

Corte de gás às petroquímicas da Petrobrás no país chegou a ser cogitado por fontes do governo argentino

Tânia Monteiro e Marina Guimarães

Fontes do Ministério do Planejamento da Argentina chegaram a anunciar à imprensa que o governo local poderia retaliar a Petrobrás no país, com o corte de gás para suas petroquímicas, se o Brasil não cedesse uma parte do gás que importa da Bolívia para o mercado argentino.

¿Não acreditamos (em retaliação)¿, disse o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, esclarecendo que, se isso acontecesse, o governo argentino estaria prejudicando o próprio país, porque as petroquímicas precisam de gás para produzir.

¿Vamos continuar com o diálogo e posições adequadas de negociação com o governo argentino.¿ Segundo ele, a Petrobrás investiu mais de US$ 2 bilhões no país nos últimos quatro anos e vai investir mais US$ 3 bilhões nos próximos quatro.

Gabrielli não admitiu sequer a possibilidade de a Petrobrás fazer um acerto político de ceder gás à Argentina para atender a uma determinação do governo brasileiro. Segundo ele, a Bolívia tem contrato assinado com o Brasil válido até 2019, e o País precisa dos 30 milhões de metros cúbicos por dia.

¿O que nós informamos aos governos brasileiro, boliviano e argentino é que essa necessidade de gás da Bolívia é uma necessidade do mercado brasileiro. Não é da Petrobrás.¿ E insistiu: ¿A Bolívia vende gás às distribuidoras no Brasil. Portanto, temos uma responsabilidade com o mercado brasileiro, antes de tudo. E o mercado brasileiro, neste momento, tem necessidade plena do gás que nós estamos trazendo da Bolívia¿.

Gabrielli descartou ainda a possibilidade de o fornecimento de gás para o Brasil ser feito com base na média histórica de consumo, como sugeriram os bolivianos na semana passada. ¿Não existe um conceito de média histórica. Existe um contrato que define o volume máximo e este volume máximo está definido em contrato.¿

¿Em 2003, importávamos de 9 a 10 milhões de metros cúbicos da Bolívia para o Brasil e pagávamos 24 milhões porque o contrato obrigava. Agora, o mercado interno brasileiro cresceu e estamos trazendo a capacidade plena do gasoduto. Não há como ceder.¿

O presidente da empresa ressalvou que a Petrobrás não é insensível às necessidades da Argentina. ¿Isso significa que a Petrobrás está disposta, junto com o governo, a analisar algumas possibilidades de fornecimento elétrico à Argentina em momentos emergenciais.¿ Para mostrar que o País tem pressa em encontrar alternativas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, informou que, da reunião de hoje, entre Cristina, Lula e Evo, participarão técnicos e ministros do setor energético dos três governos.

No encontro, serão iniciadas discussões sobre as alternativas de energia a serem oferecidas à Argentina. Segundo Gabrielli, a Petrobrás pretende ¿aprofundar os estudos técnicos para essas soluções¿, e isso é possível utilizando termoelétrica a óleo combustível, a gás natural liquefeito (GNL), mas não energia proveniente do gás.

A diretora de Gás e Energia da Petrobrás, Maria das Graças Foster, informou que o não cumprimento do contrato da Bolívia com o Brasil implica multas ¿pesadíssimas¿, e o valor depende de vários fatores, como época do ano, quantidade não fornecida, entre outros.

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