Título: Pequim vai acelerar a valorização do yuan
Autor: Trevisan Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2008, Economia, p. B7

Opção de alta do juros para conter o crescimento parece esgotada

O aumento do ritmo de valorização da moeda chinesa (yuan) ante o dólar deve se transformar no principal instrumento de política monetária do governo chinês para tentar reduzir a quantidade de dinheiro em circulação na economia e conter a inflação, que em janeiro atingiu 7,1%, o maior índice em 11 anos.

Após seis elevações em 2007, os juros devem ser usados com mais parcimônia. Ante a trajetória de queda das taxas nos Estados Unidos, Pequim teme que os juros estimulem ainda mais a enxurrada de capital estrangeiro que desembarca no país, que está na origem dos principais problemas do governo.

Só em 2007, as reservas internacionais da China cresceram US$ 464 bilhões e atingiram US$ 1,53 trilhão, valor que supera o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Essa montanha de dinheiro continua crescendo a um ritmo de US$ 30 bilhões por mês.

Na sexta-feira, o Banco do Povo da China (banco central) divulgou relatório de política monetária trimestral no qual afirma que ampliará o papel da taxa de câmbio no ajuste do balanço de pagamentos e no controle da inflação. Segundo o texto, o banco ¿precisa usar com cautela o instrumento dos juros para controlar a expansão da demanda e estabilizar as expectativas inflacionárias¿.

O enorme fluxo de dólares para o país provocou uma situação que os economistas classificam de descontrole monetário. Como a cotação do yuan é definida pelo governo, o banco central tem de comprar os dólares excedentes para evitar que elevem o valor da moeda local. Para isso, são emitidos yuans, o que aumenta a quantidade de dinheiro em circulação, a chamada base monetária. O banco lança títulos para retirar yuans de circulação, mas essas operações não têm sido suficientes para evitar o aumento da liquidez.

Na semana passada, o jornal oficial China Daily, editado pelo Conselho de Estado, apontou a opção pela valorização do yuan como o instrumento preferencial de política monetária. ¿Um aumento mais rápido do valor do yuan parece ser a ferramenta quando o Banco do Povo da China, ansioso por manter a inflação sob controle, enfrenta um dilema ao usar outra arma - a elevação dos juros¿, diz a reportagem.

CAPITAIS INDESEJADOS

O dilema da elevação dos juros, segundo o texto, é justamente atrair mais capitais ¿indesejados¿, quando as taxas norte-americanos estão em declínio, o que agravaria a já ruim condição monetária da China.

A aceleração da valorização do yuan começou a ser defendida por economistas em 2007 como o caminho ideal para evitar o aumento excessivo da liquidez e o superaquecimento da economia, cuja expansão atinge os dois dígitos há cinco anos.

Michael Pettis, professor de finanças internacionais da Universidade de Pequim, é enfático ao propor que a China abandone o gradualismo e faça uma maxivalorização do yuan, de uma única vez. ¿As condições monetárias estão claramente fora de controle e o país está bêbado de excesso de dinheiro. O que é pior, ainda há uma ressaca por vir¿, escreveu em artigo na revista Far Eastern Economic Review, da editora Dow Jones.

Para Pettis, a China está em uma ¿armadilha monetária¿, montada com um mecanismo de auto-alimentação: a alta liquidez estimula o superinvestimento e a criação de excesso de capacidade. Com produção bem superior à demanda interna, a China acaba aumentando as exportações e seu superávit comercial, que em 2007 somou US$ 262 bilhões, aumento de 48% em relação a 2006. Esses dólares entram no país e realimentam o círculo de liquidez e investimento excessivos.

Outro risco da alta liquidez é a concessão indiscriminada de crédito pelos bancos estatais, que têm histórico de má avaliação do risco. Assim, cresce a chance de as instituições acumularem empréstimos de difícil recuperação.

O economista-chefe do Banco UBS para a Ásia, Jonathan Anderson, também defende a aceleração na valorização do yuan, mas de maneira gradual. Em sua avaliação, uma súbita alta de 15% a 20% na cotação da moeda teria um efeito desastroso sobre os exportadores que já fecharam contratos e não dispõem de instrumentos de hedge para se proteger.

Mas, para Anderson, não há dúvida de que o passo tem que ser acelerado. ¿A mais rápida valorização do yuan é hoje a única arma real de ajuste à disposição das autoridades chinesas¿, escreveu o economista em outra edição da revista Far Eastern Economic Review.

A vantagem da medida é que ela ataca vários problemas de uma vez: ajuda a diminuir o superávit comercial, por meio do aumento das importações, reduz o incentivo para criação de capacidade industrial excessiva e contribuiu para o combate da inflação ao diminuir o preço dos produtos importados.

O Banco do Povo China acelerou a valorização do yuan nos últimos dias e, neste ano, a moeda já acumula alta de 2,3% - na sexta-feira, fechou cotada em 7,1418 por dólar. Em 2005, quando a China abandonou o câmbio fixo em relação ao dólar, a valorização foi de 2%. No ano seguinte, subiu para 4% e, em 2007, ficou em 6,9%.

Links Patrocinados