Título: Viúva de Carlos Marighella ganha pensão vitalícia
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Nacional, p. A12

Clara Charf foi aplaudida de pé; ela receberá R$ 2,5 mil mensais por ter sido obrigada a deixar sua profissão

Eugênia Lopes

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou ontem a concessão de indenizações a sete mulheres que foram perseguidas políticas entre 1946 e 1985. Uma das beneficiadas foi Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Aos 83 anos, ela terá direito a uma pensão vitalícia de R$ 2.520 por ter sido obrigada a deixar a profissão de aeromoça, em 1946, quando começou a ser perseguida pelo governo. Nancy Mangabeira Unger, irmã do ministro Roberto Mangabeira Unger, foi outra beneficiada com uma indenização em parcela única de R$ 100 mil.

¿O mais importante não é quanto vou receber. O importante é o trabalho da comissão para tornar público tudo o que aconteceu no Brasil. Sei que o Estado jamais vai pagar o que foi a vida de cada pessoa perseguida¿, afirmou Clara, que chorou ao discursar. Ela foi aplaudida de pé por uma platéia de cerca de cem pessoas que lotaram o auditório do Ministério da Justiça para assistir ao julgamento dos processos pela Comissão de Anistia, precedido por uma sessão em homenagem ao papel das mulheres na resistência à ditadura militar. Além da pensão mensal, Clara terá direito a cerca de R$ 150 mil, que se referem a pagamentos retroativos aos últimos cinco anos. Clara entrou com o pedido de indenização em abril de 2007.

¿São mulheres que foram ícones da resistência à ditadura¿, resumiu ontem o presidente da comissão, Paulo Abrão. O julgamento dos sete processos ficou a cargo de seis mulheres que compõem a comissão. Há dois tipos de indenização a perseguidos políticos. O primeiro é a pensão mensal vitalícia, com o pagamento de atrasados referentes aos últimos cinco anos antes da entrada do processo no Ministério da Justiça. O benefício só é concedido a quem consegue comprovar que tinha vínculo empregatício na época em que começou a ser perseguido politicamente. O outro tipo é a indenização em prestação única que tem seu valor limitado ao teto de R$ 100 mil.

Nancy Mangabeira Unger solicitou indenização em prestação única em 2006. Em 1969, ela foi expulsa da Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro sob a acusação de subversão. Em julho de 1970, quando foi presa, teve o dedo decepado por uma bala de fuzil.

Nancy saiu do Brasil em 1971, na troca de presos políticas pela libertação do então embaixador da Suíça, Enrico Bucher, seqüestrado por organizações que lutavam contra o regime militar.

Estrella Dalva Bohadana Bursztyn, Halue Yamaguti de Melo e Beatriz Arruda também receberam indenização de R$ 100 mil, em parcela única. Assim como Clara Charf, Ana Wilma Oliveira Moraes ganhou o direito de receber uma pensão vitalícia no valor de R$ 2 mil, além de R$ 282 mil em atrasados.

O último processo que estava sendo julgado ontem à noite era o de Maria do Socorro de Magalhães, que foi presa pela polícia e torturada, em 1972.

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