Título: Planalto não chega a consenso sobre ceder cargo em CPI
Autor: Samarco, Christiane ; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2008, Nacional, p. A8

Múcio e Jucá queriam passar presidência da comissão para o PSDB, mas não conseguiram convencer colegas

O Planalto reabriu ontem a negociação para dividir o comando da CPI dos Cartões com a oposição e dar a presidência ao PSDB, mas não houve acordo. Na reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ficaram sozinhos em defesa da tese de que o melhor é encerrar a crise com a oposição no Senado para não dificultar os interesses do Planalto. Para surpresa de Jucá e Múcio, até a líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foi contra o entendimento.

Segundo um dos presentes, Lula disse que, como não havia consenso nem na reunião, ele não arbitraria sobre o caso, e recomendou que os líderes governistas no Congresso decidissem. Como todos teriam uma reunião hoje às 9 horas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutir a reforma tributária, o presidente sugeriu que aproveitassem para definir também a estratégia a ser adotada na CPI. E observou que, se ele interferisse, poderia dividir a base aliada, que demorou ¿tanto tempo para articular¿ e isso não valeria a pena.

Até a reunião, setores do governo, do PMDB e do PT acreditavam que Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, haviam mudado de posição e acatado as ponderações de Jucá e Múcio. A expectativa era de que o presidente convencesse o PT do líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), de que o melhor era ceder à oposição, para não prejudicar o Planalto no Senado, onde a maioria governista é estreita.

Mas ocorreu o contrário. Dilma e o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, foram contra, e Fontana acabou convencendo Roseana a mudar de idéia. Para sensibilizar Lula e os líderes, ele levou um levantamento mostrando que a generosidade com a oposição não tinha precedente na história recente. Nem no governo Fernando Henrique Cardoso nem no atual houve um só caso em que os maiores partidos abrissem mão de comandar uma CPI, como determina o regimento interno do Senado. ¿Estou muito dividida depois que vi o levantamento do Fontana¿, contou Roseana depois da reunião.

O governo decidira retomar as negociações diante da iminente criação de uma CPI só de senadores, o que tumultuaria o ambiente político e agravaria a crise no Senado. Como os partidos aliados já haviam concordado com Jucá, só faltava convencer o PT. Para isso, Lula precisava entrar em ação pessoalmente. No fim, no entanto, houve uma reviravolta.

Para um dirigente do PT com trânsito no Planalto, o melhor cenário para o governo seria evitar o tumulto de duas CPIs. Esse dirigente está convencido de que não partilhar a direção da CPI dos Cartões serve aos interesses do PT, e não do governo.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), também tem interesse em evitar dois inquéritos, para não tumultuar a agenda do Senado. ¿Só haverá a outra CPI, a do Senado, se não houver entendimento. Se há possibilidade de um acordo, vou esperar a fumaça branca¿, disse Garibaldi ontem.

Foi o PMDB do Senado que indicou Neuto de Conto (SC) como presidente da CPI. Segundo um dirigente do partido, porém, Conto foi escolhido justamente porque pode ser retirado do cargo a qualquer momento, diante de uma negociação.