Título: Militares mantêm domínio sobre setores-chave da economia de Cuba
Autor: Miranda, Renata; Balbino, Leda
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2008, Internacional, p. A12

Segundo analistas, pelo menos 60% das indústrias e negócios estatais são controlados pelas Forças Armadas

O futuro de Cuba está diretamente ligado aos militares do país. Atualmente, as Forças Armadas Revolucionárias são o pilar do governo comunista, com enorme presença em setores estratégicos da economia e forte influência política dentro da estrutura de poder da ilha.

Segundo Jaime Suchlicki, diretor do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade de Miami, 60% das indústrias e negócios do país são gerenciados pelos militares. ¿Se você for fazer qualquer investimento em Cuba, tem de lidar com os militares¿, disse Suchlicki ao Estado, por telefone. ¿Eles se beneficiarão de qualquer eventual mudança e não abrirão mão facilmente do que têm.¿

Quando a União Soviética ruiu e Cuba perdeu sua principal fornecedora de equipamentos bélicos e apoio técnico, as Forças Armadas foram obrigadas a fazer mudanças drásticas. Fidel Castro anunciou que Cuba não mais combateria em movimentos pela independência no exterior. O número de soldados, que tinha atingido seu máximo com 300 mil membros ativos no início da década de 1960, caiu drasticamente.

Hoje em dia, Cuba tem cerca de 49 mil soldados na ativa e 1,1 milhão de reservistas. Generais que já foram comandantes em campo de batalha se transformaram em líderes de uma nova classe empresarial militar, com interesses pessoais no futuro da ilha.

O general Abelardo Colomé Ibarra, de 68 anos, supervisiona o vasto aparato de segurança doméstica e serviço de informações como ministro do Interior. O general Ulises Rosales del Toro, de 65 anos, controla o economicamente importante Ministério do Açúcar. Outros generais e coronéis têm administrado os Ministérios da Pesca e dos Transportes, assim como a Habanos S.A., que trabalha em conjunto com uma empresa européia para vender os charutos da ilha, famosos no mundo inteiro.

Ramiro Valdés, de 75 anos, um dos três homens que detêm o título honorário de Comandante da Revolução, durante anos operou uma importante empresa de importação de computadores e outros produtos eletrônicos, até que Raúl Castro o nomeou ministro da Comunicação, pouco antes da doença de Fidel, em meados de 2006.

As Forças Armadas operam também a cadeia TRD Caribe, que tem centenas de lojas que vendem produtos ao consumidor por todo o país, e a Gaviota S.A., uma empresa de turismo controlada inteiramente pelo Estado, que administra mais de 30 hotéis, com subsidiárias que proporcionam viagens turísticas. Os empreendimentos econômicos dos militares são administrados pelo Business Administration Group, do Ministério da Defesa, controlado pelo braço direito de Raúl, o general Julio Casas Regueiro, de 72 anos.

Segundo analistas, a presença de cinco generais no Conselho de Estado, nomeado no domingo, reforça o poder dos militares no governo e ratifica Raúl no poder, deixando pouco espaço para mudanças - tanto políticas como econômicas.

¿Não há nada que sugira que acontecerão mudanças significativas na ilha¿, disse José Azel, da Universidade de Miami. Azel afirma que as empresas estatais mais importantes estão sob controle dos militares e esse tipo de administração prejudica uma eventual transição para a economia de mercado em Cuba.

O economista Paulo Sandroni, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que uma transição para a economia de mercado só será possível depois que derrubarem a Lei Helms-Burton (de 1996, que dá base legal para o embargo) e modificarem o estatuto de propriedade na ilha.

¿Até isso acontecer, vamos observar somente pequenas alterações no varejo¿, disse. ¿Por enquanto, nada de substancial deve mudar na economia cubana porque a base do governo continua a mesma.¿

Já Katrin Hansing, diretora do Instituto de Pesquisa Cubano da Universidade Internacional da Flórida, acredita que a escolha de veteranos para o Conselho de Estado pode ser benéfica. ¿Mesmo sendo conservadores, todos esses homens são aliados de Raúl de longa data e assim temos um senso de unidade e estabilidade que pode ajudar a impulsionar mudanças econômicas a longo prazo.¿

Links Patrocinados