Título: Mobilização de Forças Armadas no dia da renúncia foi um fiasco
Autor: Godoy , Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2008, Internacional, p. A12
Ordem dada horas antes da saída de Fidel expôs fragilidade da defesa da ilha
As Forças Armadas de Cuba entraram em prontidão à meia-noite do dia 19, seis horas antes da chegada às ruas da edição do jornal oficial Granma, na qual Fidel Castro anunciava sua decisão de deixar a presidência depois de 49 anos no poder.
Foi um alerta militar melancólico: a aviação só conseguiu alinhar três aviões MiG-29 na Base Libertador, de Havana, e o batalhão de forças especiais - a tropa de elite do Exército - teria conseguido mobilizar não mais do que 300 homens por falta de suprimentos e de combustível para os caminhões, segundo relato de um adido militar que, por sua condição de diplomata, pediu para não ser identificado.
Equipadas pela extinta União Soviética ao longo de 30 anos e treinadas para multiplicar a revolução socialista durante a Guerra Fria, as tropas de Cuba já não oferecem perigo. Sem dinheiro para ir às compras , o Comando Revolucionário - que um dia enviou 15 mil combatentes para dar suporte ao governo socialista de Angola e planejava instalar regimes comunistas no Suriname, na Guiana, em El Salvador, na Nicarágua e na ilha de Granada - agora depende da munição doada pelo presidente venezuelano,Hugo Chávez, para treinar soldados no uso de fuzis AK-47 - os mais novos produzidos na Ucrânia, em 1991.
A aviação de combate foi abatida pelo tempo e pela falta de manutenção. Em condições ideais, segundo relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, os esquadrões táticos, que chegaram a somar 120 unidades do robusto MiG-21, contabilizam hoje não mais de 80 jatos - apenas 10 deles em condições operacionais. Todos com cerca de 30 anos de uso.
LIMITAÇÃO
Outras aeronaves, como os MiG-23 de vários tipos cedidos pela ex-União Soviética, enfrentam as mesmas dificuldades dos automóveis dos anos 40 e 50 que rodam em Havana: faltam componentes e peças de reposição. No caso dos aviões, o fator limitante é o de jamais terem sido submetidos a programas de modernização.
De acordo com pilotos americanos que fazem vôos de reconhecimento, cada vez que um caça cubano entra no espaço aéreo vigiado por eles ¿não é um bip eletrônico que aparece nas telas, é um grito¿. A Marinha mantém dois navios leves de patrulha costeira. E é só isso.
Ainda impressiona o comando de defesa aérea cubano, equipado com 300 mísseis de 7 tipos diferentes e 400 canhões de tiro rápido, dirigidos por radar. O contingente total das forças é de 49.750 homens e mulheres, aos quais o governo acrescenta 1,1 milhão de milicianos voluntários. Contudo, há pelo menos cinco anos o grupamento não faz exercícios coletivos, pois não há verba para custear o transporte e a alimentação.
O Exército da Juventude Socialista realizou em julho de 2006 um ciclo de instrução de tiro. Cada um dos 15 mil participantes pagou pela comida, pelo deslocamento e pelos sete disparos - o equivalente, em pesos, a US$ 1,40, uma fortuna na ilha em que o presidente recebe, ao menos nominalmente, a US$ 30 por mês.
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