Título: Ativos do Brasil já superam dívida externa em US$ 6,983 bilhões
Autor: Nakagawa, Fernando; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2008, Economia, p. B4

Posição de credor externo do País foi obtida mais com o aumento das reservas do que com quitação de dívida

Com o aumento mais forte dos ativos externos do País, a posição credora do Brasil no exterior ficou em US$ 6,983 bilhões em janeiro. Essa foi a primeira vez em 508 anos de história que o País deixou de ser devedor líquido. Na semana passada, o Banco Central (BC) já havia informado o fato, mas disse apenas que o saldo do País era ¿superior a US$ 4 bilhões¿.

Veja especial sobre a dívida externa

O relatório do Banco Central divulgado ontem revela que a posição credora externa do Brasil foi obtida mais pelo aumento das reservas internacionais e dos ativos dos bancos no exterior do que pela redução da dívida (privada e pública). Em janeiro, os ativos cresceram US$ 9,9 bilhões. Nesse mesmo período, a dívida externa do País diminuiu apenas US$ 1,490 bilhão.

Com o aumento acelerado das reservas nos últimos meses, a mudança do Brasil para a condição de credor externo já era esperada. Mas a maioria dos analistas do mercado financeiro acreditava que isso só iria ocorrer em fevereiro ou março. O anúncio feito na quinta-feira passada surpreendeu boa parte dos economistas.

Os dados do Banco Central mostram que a surpresa ocorreu porque os ativos brasileiros no exterior cresceram mais rápido que o esperado, sobretudo as reservas internacionais - que em janeiro aumentaram US$ 7,147 bilhões ante dezembro do ano passado.

Com essa elevação, o montante atingiu US$ 187,507 bilhões no mês passado. Em igual trajetória, os ativos de bancos no exterior cresceram outros US$ 2,738 bilhões, somando US$ 12,864 bilhões.

Já os créditos brasileiros em outros países foram na contramão e tiveram ligeira redução de US$ 76 milhões, para US$ 2,819 bilhões. Juntos, esses três itens correspondem ao total dos ativos brasileiros no exterior, valor que atingiu US$ 203,190 bilhões em janeiro.

A cifra foi mais que suficiente para cobrir o total da dívida externa, que estava em US$ 196,207 bilhões no final de janeiro. ¿Os números mostram que as reservas cresceram mais rapidamente e aceleraram a mudança de sinais na dívida externa líquida¿, diz o professor da USP, Fabio Kanczuk.

Para ele, apesar da crise internacional, o Banco Central dá sinais claros de que não abandonou a estratégia de comprar dólares no mercado. ¿Aparentemente, essa atuação serve para reforçar as reservas, que o governo diz que servem como um seguro para a economia. Continuar comprando dólares mesmo com as reservas próximas de US$ 190 bilhões pode indicar que o Banco Central também quer segurar as cotações do câmbio¿, diz o professor.

CAUTELA

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, evitou fazer comentários a respeito do tema. Ele não quis avaliar, por exemplo, a surpresa de parte do mercado financeiro, que acreditava na posição credora apenas em fevereiro ou março. Lopes se limitou a avaliar que esse ¿indicador tem apresentado uma evolução muito positiva¿.

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