Título: Correa exige resolução mais dura
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Internacional, p. A14

Horas depois de acordo selado na OEA, presidente equatoriano insiste, em Caracas, em condenação à Colômbia

O Equador e a Venezuela insistiram ontem que a crise diplomática com a Colômbia não será encerrada sem uma condenação da Organização dos Estados Americanos (OEA) ao governo colombiano pelo mortífero ataque de sábado contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano.

A advertência foi feita um dia após a OEA aprovar o texto de uma resolução na qual a Colômbia admite ter violado a soberania e a integridade territorial do Equador, mas que não condena nem sanciona o governo de Bogotá. O acordo foi alcançado entre Equador e Colômbia depois de 14 horas de intensas negociações e a mediação de Brasil, Chile e Argentina.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, admitiu ontem que ainda falta muito para superar a crise, apesar do acordo alcançado na quarta-feira. Insulza liderará uma missão que irá ao Equador e à Colômbia para analisar o incidente e preparar um relatório que será apresentado na reunião dos chanceleres da OEA, no dia 17, quando a resolução será votada.

Numa mostra de que a questão ainda não está resolvida, o embaixador da Colômbia na OEA, Camilo Ospina, advertiu que, se for comprovado que Equador e Venezuela financiaram as Farc, os dois países poderiam ser sancionados por patrocinar o terrorismo. A Colômbia diz ter encontrado em computadores apreendidos das Farc documentos comprovando apoio de Quito e de Caracas à guerrilha.

O presidente equatoriano, Rafael Correa, e seu colega venezuelano, Hugo Chávez, pediram ontem uma condenação ¿contundente¿ contra Bogotá, mas admitiram que o acordo alcançado na OEA é um primeiro passo para aliviar a crise.

`PRÓPRIOS MEIOS¿

¿Se o Equador não obtiver uma condenação contundente da OEA à agressão da Colômbia, buscará uma satisfação por seus próprios meios¿, advertiu Correa, que chegou a Caracas na noite de quarta-feira, depois de se reunir em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tanto o Equador quanto a Venezuela enviaram tropas à fronteira com a Colômbia. ¿Se essa agressão ficar impune, a OEA não servirá para nada e teremos de jogá-la no lixo da história. Por isso, esperamos uma condenação da reunião do dia 17¿, disse Correa.

Chávez, um importante aliado do presidente equatoriano, qualificou o ataque de sábado como um ¿crime de guerra¿ e ameaçou limitar o comércio e os investimentos com a Colômbia (leia mais na pág. 15).

O presidente nicaragüense, Daniel Ortega, anunciou ontem, por sua vez, que a Nicarágua estava rompendo relações diplomáticas com a Colômbia em solidariedade ao Equador e por causa das reiteradas invasões ao espaço marítimo que os dois países disputam no Mar do Caribe. ¿Estamos rompendo com a política terrorista que está sendo praticada pelo governo de Álvaro Uribe¿, disse Ortega, durante uma entrevista coletiva com Correa.

O presidente equatoriano assegurou ontem à tarde em Manágua que Uribe sabia que em março as Farc iam libertar um grupo de 12 reféns. ¿Ele sabia e usou esses contatos para montar essa tramóia e fazer o mundo acreditar que eles eram do tipo político e de apoio às Farc e, com isso, lançar uma cortina de fumaça sobre sua ação injustificável¿, disse Correa, referindo-se ao contato que o equatoriano Gustavo Moncayo estava mantendo com as Farc para obter a libertação de reféns.

Correa também pediu ao Grupo do Rio que condene a Colômbia pela invasão ao território equatoriano. ¿Temos de tomar decisões amanhã (hoje) em Santo Domingo: condenar claramente a agressão colombiana e obrigar esse governo a nunca mais agredir um país irmão¿, disse Correa, que participa hoje da 20ª Cúpula do Grupo do Rio, onde devem discutir meios para reduzir a crise.

Em Bogotá, Uribe afirmou que não pensa em guerra e garantiu que não repetirá uma operação militar fora de suas fronteiras se houver compromisso dos países vizinhos de que não abrigarão rebeldes. ¿Creio que nossa causa é justa¿, disse Uribe, referindo à operação militar que levou à morte de Raúl Reyes, número 2 das Farc. Ele acrescentou que não comunicou Correa, pois temia que se o fizesse a missão fracassaria. AP, REUTERS E AFP

RESOLUÇÃO

Violação - Estabelece que a incursão da Colômbia no território equatoriano, em uma operação contra as Farc, foi uma violação da soberania e da integridade territorial do Equador

Direito - Reafirma o princípio de que o território de um Estado é inviolável e não pode ser objeto de ocupação militar nem de outras medidas de força tomadas por outro Estado

Missão - Constitui uma missão para colher informações e elaborar um relatório para a reunião do dia 17