Título: Lula perde chance diplomática
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Internacional, p. A26

Assessores lamentam ausência na cúpula de Santo Domingo, após uma semana de mediação

Leonencio Nossa

Logo que as primeiras imagensde apertos de mão e sorrisos dos presidentes Hugo Chávez (Venezuela), Álvaro Uribe (Colômbia) e Rafael Corrêa (Equador) em Santo Domingo chegaram ao Palácio do Planalto, auxiliares do governo brasileiro lamentaram a ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de cúpula de ontem do Grupo do Rio, na República Dominicana.

Na abertura do pronunciamento, em Santo Domingo, o chanceler Celso Amorim (Itamaraty) fez questão de justificar a ausência de Lula. Amorim disse que no mesmo momento em que ele fazia o discurso, o presidente da República estava no Rio, recebendo o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco e Silva, por conta das comemorações dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil (18808-2008). O ministro disse que a data era importante porque a partir de então construiu-se a Nação e a independência do País.

Embora o Itamaraty tenha considerado que a presença do ministro Amorim em Santo Domingo tenha compensado a ausência de Lula e estivesse mais de acordo com a política do governo de ser protagonista no continente de forma discreta, os assessores do Planalto avaliaram que o presidente poderia ter lucrado com o acordo de paz entre os vizinhos sul-americanos. Um dividendo importante porque o presidente passou a semana em conversas por telefone para resolver o conflito surgido com a invasão da Colômbia ao território equatoriano.

Um assessor do Planalto chegou a dizer que a visão do Itamaraty era equivocada. O palácio também lamentou que a estratégia de Lula de isolar Hugo Chávez tenha dado errado na última etapa.

Assessores disseram que, embora o presidente brasileiro tivesse evitado aparições públicas durante as negociações - o que ficou evidenciado na última quarta-feira, quando não acompanhou Rafael Correa num pronunciamento que o equatoriano fez no Planalto -, ele estaria no encontro de Santo Domingo se soubesse, com antecedência, que o assunto principal seria a crise desencadeada no sábado passado.

Em princípio, o encontro de Santo Domingo seria mais um entre tantos de chefes de Estado da região, para discutir assuntos tradicionais da política latino-americana.

Havia dois meses que o Planalto já preparava a viagem de Lula para o Rio de Janeiro, onde ontem ele visitou três comunidades pobres da cidade.

A preparação do forte esquema de segurança, o envolvimento de autoridades fluminenses e a expectativa nos morros impossibilitaram uma mudança de agenda.

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