Título: Outro dirigente das Farc é morto
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Internacional, p. A28

Ivan Ríos, integrante do secretariado, foi assassinado por outro guerrilheiro, que entregou sua mão decepada como prova

Ruth Costas

O governo colombiano anunciou ontem a morte de outro comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O guerrilheiro conhecido como Iván Ríos, de 46 anos, era o mais jovem dos sete integrantes do secretariado da guerrilha e um dos mais próximos ao seu porta-voz, Raúl Reyes, que morreu há uma semana em território equatoriano.

Ríos teria sido morto por um membro da sua própria força de segurança conhecido como ¿Rojas¿, após intensos combates com o Exército colombiano numa região limítrofe entre os Departamentos (Estados) de Caldas e Antioquia, segundo o ministro de Defesa colombiano, Juan Manuel Santos. ¿(Rojas) disse que matou Ríos há três dias para aliviar a pressão militar sobre ele¿, afirmou Santos. ¿Eles estavam cercados, sem provisões e incomunicáveis.¿

De acordo com autoridades colombianas, o guerrilheiro também estaria interessado na recompensa de US$ 5 milhões oferecida pelo governo americano para quem fornecesse informações sobre Ríos. Ele teria entregado às autoridades da região uma mão do comandante, sua cédula de identidade, passaporte e computador pessoal.

O corpo de Ríos e de uma mulher que as autoridades suspeitam ser de sua companheira foram encontrados pelo Exército no Rio Armas, no Departamento de Caldas.

Pouco depois do anúncio da morte de Ríos, o ministro de Segurança do Equador, Gustavo Larrea, disse as Farc libertariam ¿nos próximos dias¿ Ingrid Betancourt, os três americanos seqüestrados e outros reféns. Mas o presidente do Equador desmentiu a notícia no encontro do Grupo do Rio, na República Dominicana.

Visto como uma liderança das Farc relativamente moderada, Ríos teve um grande protagonismo durante as negociações de paz em San Vicente de Caguán, durante o governo do presidente Andrés Pastrana (1998-2002). A polícia diz que sua verdadeira identidade é José Juvenal Velendia, mas a Promotoria colombiana e o Departamento de Justiça dos EUA o identificam como Manuel Muñoz Ortiz.

Ríos foi incluído no secretariado das Farc por indicação de Reyes, em 2005, após a morte natural de ¿Noel Matta Matta¿. A partir de então ele acabou também se aproximando bastante do líder máximo da guerrilha, Manuel Marulanda. Agora, a cúpula das Farc deve encontrar um novo nome para substituí-lo. Entre os cotados está Jorge Torres Victoria, conhecido como ¿Pablo Catatumbo¿ - chefe do bloco ocidental das Farc, ligado ao narcotráfico.

A morte de Ríos é mais um duro golpe para a guerrilha. Até a sexta-feira passada, as forças de segurança colombianas nunca haviam conseguido matar ou capturar nenhum membro da cúpula das Farc - o chamado secretariado, formado por sete guerrilheiros.

MITO

¿A eficácia na interceptação das comunicações dos rebeldes e as informações repassadas por guerrilheiros que estão desertando estão ajudando o governo a derrubar o mito de que comandantes da guerrilha como Reyes e Ríos eram inatingíveis¿, disse ao Estado Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, em Bogotá. ¿Além disso, o fato de o autor do crime ser um guerrilheiro é um sintoma importante de que já está ocorrendo uma quebra da coesão interna e do código de lealdade das Farc.¿

Para Carlos Medina, especialista em conflitos armados da Universidade Nacional da Colômbia, o mais surpreendente é que a guarda pessoal dos membros do secretariado costuma ser formada por pessoas de extrema confiança. ¿É preciso esperar para ver se essas informações serão confirmadas pelos rebeldes, mas se elas estiverem correta é um sinal de que as Farc chegaram a um nível de degradação extremo¿, diz.

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