Título: Emergentes devem receber US$ 730 bi este ano, diz IIF
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Economia, p. B4

Valor projetado é 6,6% menor que o recorde de 2007, de US$ 782 bilhões, mas 29% superior ao de 2006

Apesar da crise financeira que abala os Estados Unidos e parte considerável do mundo desenvolvido, os fluxos de capital privado para os países emergentes devem atingir US$ 730,8 bilhões em 2008, segundo projeção do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), uma associação patrocinada pelo sistema financeiro mundial, com sede em Washington. Os investimentos diretos para os emergentes, segundo a instituição, vão alcançar o recorde de US$ 268 bilhões em 2008, comparado com US$ 256 bilhões em 2007 e US$ 167 bilhões em 2006.

Os fluxos totais previstos para 2008 significam um recuo de 6,6% em relação ao recorde de US$ 782,4 bilhões de 2007 (número estimado pelo IIF), mas a projeção não pode ser considerada de forma alguma como um fato negativo. O valor projetado para 2008 ainda é 29% superior ao de 2006, e é o maior da história, com exceção do ano excepcionalmente aquecido de 2007.

¿O segundo maior nível jamais projetado de fluxos privados (para os emergentes) reflete a avaliação do IIF da confiança dos investidores baseada no histórico de políticas econômicas sólidas que muitos governos de mercados emergentes implementaram¿, disse ontem William Rhodes, vice-presidente sênior do Citigroup e um dos mais célebres executivos financeiros do mundo, responsável pela renegociação da dívida externa latino-americana nos anos 80.

Rhodes e a cúpula do IIF abriram ontem no Rio, no Hotel Copacabana Palace, o Encontro da Primavera do IIF. Além do executivo do Citigroup, participaram da coletiva inicial à imprensa Roberto Setúbal, presidente do Itaú; Josef Ackerman, chairman do Deutsche Bank; Francisco Gonzales, chairman e principal executivo do banco espanhol BBVA; Charles Dallara, secretário-executivo do IIF; e Yusuke Horiguchi, economista-chefe do IIF. O encontro encerra-se nesta sexta-feira, com uma programação que tomará o dia todo.

Durante a entrevista, os diretores do IIF apresentaram o relatório ¿Fluxos de Capital para os Mercados Emergentes¿, que é divulgado duas vezes por ano (o último foi em outubro de 2007). Em quase todos os aspectos, houve surpresas positivas, e as estimativas de outubro, feitas no calor da crise das hipotecas subprime nos Estados Unidos, reveleram-se pessimistas demais.

Além disso, o IIF detectou, no relatório divulgado ontem, uma inesperada ¿troca de papéis entre as economias maduras e as emergentes¿. Por exemplo, os preços dos bônus no primeiro grupo oscilaram muito, enquanto no segundo ficaram estáveis. Os ratings nos mercados maduros despencaram, ao mesmo tempo em que subiam na maioria dos emergentes.

E enquanto os fluxos de capitais para os títulos securitizados nos mercados maduros passaram por uma espécie de ¿estouro de bolha¿, disparando e depois despencando, os fluxos para os países emergentes tiveram um padrão bem estável, mesmo quando se analisa os dados semana a semana. Finalmente, instituições de mercados emergentes, como os fundos soberanos, vieram em socorro de bancos combalidos do mundo desenvolvido.

Segundo Ackerman, do Deutsche Bank, ¿é fascinante notar que, enquanto o IIF tantas vezes teve como preocupação central, ao longo dos últimos 25 anos, as crises nos países emergentes, graças ao tipo de política econômica consistente que vemos aqui no Brasil, muitas economias emergentes estão fortalecidas, enquanto as mais sérias mazelas se encontram em algumas das principais economias industrializadas do mundo¿.

A pequena queda no fluxo de capitais privados para os mercados emergentes em 2008, prevista pelo IIF, deve-se basicamente à previsão de que a economia global terá uma leve desaceleração, com os países ricos saindo de 2,3% em 2007 para 1,8%, e os mercados emergentes de 7,3% para 6,6%.

Pelas projeções do IIF, a China vai continuar liderando os investimentos diretos líquidos, devendo atrair US$ 88 bilhões em 2008. O relatório também observa que países com políticas inamistosas ao investimento estrangeiro, como Venezuela, Equador e Argentina, sofreram declínios em investimentos diretos.