Título: China retirou US$ 480 bi de circulação em 2007
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Economia, p. B7
Temor de superaquecimento da economia faz governo adotar medidas que, no entanto, não conseguem acabar com o excesso de liquidez
O banco central da China retirou de circulação no ano passado quase meio trilhão de dólares por meio da emissão de títulos e, ainda assim, não conseguiu acabar com o excesso de liquidez na economia.
A grande oferta de dinheiro é canalizada principalmente para investimentos em ativos fixos, que crescem em velocidade considerada preocupante pelo governo - no ano passado, a expansão foi de 24,8%. O temor é que esses investimentos gerem excesso de capacidade de produção, provoquem o superaquecimento da economia e aumentem o volume de créditos irrecuperáveis nos balanços dos bancos estatais.
Relatório do Banco do Povo chinês divulgado ontem revela que a instituição realizou em 2007 emissões líquidas de títulos no valor de 3,5 trilhões de yuans para reduzir a quantidade de dinheiro em circulação. Ao câmbio de dezembro de 2007, a cifra equivale a US$ 480 bilhões, cerca de um terço do PIB brasileiro.
¿Por muito tempo vamos ver excesso de liquidez e entusiasmo para investimentos. Temos de monitorar esse movimento e sermos cautelosos no ajuste¿, disse o presidente da instituição, Zhou Xiaochuan, em entrevista durante a reunião anual do Congresso Nacional do Povo, o parlamento chinês.
O alto nível de poupança e o superávit no balanço de pagamentos de 9% do PIB são as principais razões da expansão monetária. O superávit provoca a entrada de grandes quantidades de moeda estrangeira na China. Para evitar que esse movimento leve à valorização da moeda nacional, o banco central compra dólares e emite yuans. Isso aumenta a base monetária e alimenta as reservas internacionais, que fecharam 2007 em US$ 1,53 trilhão - alta de 43% em relação a 2006.
Como a emissão de moeda provocaria uma explosão inflacionária, o banco central lança títulos que pagam certa remuneração e são comprados por investidores com os yuans excedentes. O problema é que essa operação, chamada de ¿esterilização¿, absorve de 80% a 90% do excesso de dinheiro, o que leva ao aumento da liquidez.
INFLAÇÃO
Zhou afirmou que ¿certamente¿ há espaço para elevação dos juros com o objetivo de combater a inflação, mas ressaltou que a medida deve ser analisada com cautela, principalmente quando a taxa nos Estados Unidos está em queda. Os juros chineses foram elevados seis vezes no ano passado e estão em 7,47% para operações de crédito de um ano, enquanto a taxa americana está em 3%.
O aumento da diferença pode estimular ainda mais o fluxo de capital estrangeiro para a China, o que agravaria a dificuldade do banco central em controlar a quantidade de dinheiro em circulação.
O presidente do banco central disse ainda que a elevação dos juros poderia contrariar a política oficial de estimular o aumento do consumo interno e reduzir a taxa de poupança.
Combater a inflação é a tarefa número um do governo, disse o ministro da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, Ma Kai, na mesma entrevista.
O Índice de Preços ao Consumidor teve alta de 7,1% em janeiro, o mais alto em 11 anos. O vice-diretor do Escritório de Estatísticas da China, Lin Xianyu, disse à agência de notícias Dow Jones que a inflação de fevereiro ficará no mesmo nível do mês anterior. Diante dessa tendência, é crescente o ceticismo quanto à possibilidade de o índice de preços anual ficar dentro da meta de 4,8% fixada pelo governo para 2008.
O presidente do banco central chinês afirmou que a aceleração da valorização do yuan em relação ao dólar ajuda a combater a inflação, mas o governo lançará mão de uma série de medidas para tentar conter o nível de preços, especialmente as relacionadas à política monetária.