Título: Policiais chamaram nosso filho de cachorro
Autor: Sant¿Anna, Lourival; Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2008, Metrópole, p. C1

Entrevista: Rosaly Silveira da Silva e Luiz Carlos Lima: pais de Pedro, barrado na Espanha. `Pedro e Patrícia se sentiram humilhados. Eles não fizeram nada de errado. Eram apenas latino-americanos¿

O pesadelo dos professores universitários Rosaly Silveira da Silva e Luiz Carlos Lima começou na quarta-feira quando o filho do casal, Pedro Luiz Lima, de 25 anos, telefonou de Madri, avisando que a sua entrada havia sido barrada.

Seu filho explicou por que ele foi barrado?

Rosaly - Ninguém explicou nada. Meu filho foi preso, seqüestrado. Ele e outros brasileiros não receberam nenhuma explicação por horas.

Ele se sentiu humilhado?

Luiz Carlos - Claro. Ele foi colocado num ônibus com outras pessoas sem direito a saber aonde iam ou por que estavam sendo levadas. Eram apenas latino-americanos. Ele não fez nada de errado. Meu filho se formou em Ciências Sociais na Universidade do Estado do Rio. É um estudante de doutorado. Tirou nota 10 num pedido de bolsa na Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro). Ele já estudou na Holanda. Por que fazerem isso com ele e com a Patrícia (Rangel), uma menina formada em Relações Internacionais pela PUC? A Patrícia estava muito nervosa. Ela começou a chorar e caiu no chão. Nessa hora, meu filho perguntou para o policial por que eles estavam sendo tratados como cachorros. Sabe o que o policial respondeu? `Porque vocês são cachorros¿. Eles foram barrados porque são latino-americanos. É assim que a Espanha trata a gente.

Seu filho estava com documentação em dia? Ele levava dinheiro vivo?

Rosaly- Ele estava com todos os documentos para participar do congresso. Fez até seguro saúde para não correr nenhum risco. Hoje de manhã eles tiveram uma espécie de julgamento numa das salas do aeroporto. E o juiz determinou que eles estavam ilegais.

Por que eles não fizeram um vôo direto para Lisboa?

Luiz Carlos - É a velha história do barato que sai caro. Eu sugeri que eles fizessem o vôo direto. Mas escolheram esse via Madri porque era mais barato. Meu filho viajou tão contente para participar desse congresso. Estava feliz com o trabalho que preparou para apresentar lá.

Sobre o que era o trabalho?

Luiz Carlos - Por ironia, era sobre diferentes visões de democracia. Ele me disse uma coisa interessante numa das nossas conversas por telefone. Domingo tem eleição na Espanha. E um dos temas mais debatidos é justamente a entrada de estrangeiros. Talvez ações como essa sejam um reflexo desse momento eleitoral.