Título: Espanhóis vetados no País protestam
Autor: Anna, Lourival Sant, Décimo, Tiago
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Cidades, p. C3

Três dos sete turistas barrados em Salvador foram ontem se queixar no Consulado do Brasil em Madri

Lourival Sant'Anna e Tiago Décimo

Ontem, três dos espanhóis repatriados a partir de Salvador foram ao Consulado do Brasil em Madri, para reclamar. A Polícia Federal nega que tenha havido retaliação por causa do crescente número de brasileiros impedidos de entrarem na Espanha.

Os espanhóis Abarat Nathani Nathani, Alberto Garcia Bayon, Francisca Garcia Huertas, Juan Jesus Ventura Artega, María Perez Fernandez, Pablo Lafuente Martin e Rebeca Martinez Miranda desembarcaram por volta das 21h30 de anteontem. Vindos de Madri, chegaram em vôo regular da Air Europa, identificado como UX-083, que pousou com 188 passageiros - sendo 40 brasileiros, segundo a PF. Os sete voltaram à Espanha no mesmo avião em que vieram, pouco antes da meia-noite.

O chefe da Delegacia de Imigração da Polícia Federal na Bahia, André Costa de Mello, afirmou que seis dos repatriados não apresentaram comprovantes de compra de pacote turístico ou vouchers de hospedagem nem demonstraram condições financeiras de permanecerem em território nacional. ¿Um deles afirmou que ia passar 20 dias, mas trazia US$ 100 em dinheiro e nenhum cartão de crédito. Outro trazia um cartão de crédito vencido, tentando burlar a imigração. O sétimo repatriado tinha excedido o limite de 180 dias em território brasileiro nos últimos 12 meses.¿

Mello nega qualquer tipo de retaliação e afirma que ¿não cabe à PF responder a uma atitude do governo espanhol. Não recebemos nenhum pedido ou comando do governo brasileiro para restringir a entrada de espanhóis no Brasil¿. Mas o delegado concorda que o ocorrido é raro. ¿Em média, repatriamos de seis a dez estrangeiros por mês na Bahia, em especial portugueses, espanhóis, alemães e italianos. O número desta vez foi fora do normal, mas não houve uma atitude isolada. Faz parte de um trabalho rotineiro, o que ocorreu foi apenas uma coincidência.¿ No começo da tarde, a PF acabou confirmando uma reunião com representantes do Ministério das Relações Exteriores.

Os três espanhóis repatriados que foram se queixar ontem no Consulado do Brasil em Madri não provocaram tumulto, apenas reclamaram, informou o cônsul-geral, Gelson Fonseca, que não chegou a vê-los. Eles exibiram seus passaportes, que tinham carimbo da PF informando que não preenchiam as normas de admissão de estrangeiros no País.

TURISMO SEXUAL

De acordo com o delegado da PF, o controle de entrada de estrangeiros foi intensificado no fim do ano passado, como forma de coibir, sobretudo, o turismo sexual na Bahia, em especial no verão. ¿Passamos a entrevistar todos os turistas vindos do exterior na chegada ao aeroporto¿, diz Mello. Segundo ele, o turista sexual tem ¿perfil definido: em geral são homens desacompanhados, de idade avançada, sem pacote turístico.¿ Um dos repatriados espanhóis, segundo agentes da PF, teria esse perfil.

O casal de comerciantes Eduardo e Sonia Villar, residentes no município de Calahorra, Província da Rioja, na Espanha, estava a bordo do vôo UX-083. Ao chegarem, foram entrevistados por agentes da PF. ¿Pareceu-me tudo normal¿, conta Eduardo. ¿Perguntaram pelos vouchers do hotel, por cartões de crédito, por dinheiro e depois nos liberaram. Foi tranqüilo.¿ Um dia após chegar ao Brasil, Eduardo diz que Salvador ¿é bonita¿ e lamenta o entrave.

BRASILEIROS CONFINADOS

Após horas de espera e incerteza no Aeroporto de Madri, sete brasileiros desembarcaram, na manhã de ontem, no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Eles foram deportados anteontem, quando chegavam para fazer turismo em países como Portugal, Espanha e França. Cinco deles contaram que apresentaram documentos na imigração e, sem receber explicações, foram levados a uma sala da polícia, onde foram entrevistados, e a um alojamento fechado em uma parte antiga do aeroporto, onde souberam que seriam deportados, após uma segunda entrevista, em que foram feitas perguntas como a quantidade de dinheiro portada e o que fariam no país.

Eles consideraram o cômodo de 30 m², com beliches com colchões finos, semelhante a um presídio. Durante o tempo, foram escoltados e vigiados por policiais, até para ir ao banheiro. Comida foi oferecida apenas uma vez por dia. Água, só no banheiro. Eles dizem que o alojamento, dividido por homens e mulheres, estava lotado. Não havia camas para todos, e eram mais de cem pessoas, a maioria brasileiras, incluindo três idosos e uma criança. Alguns estariam no local há uma semana e só deveriam ser mandados de volta amanhã.

Pelo menos quatro dos brasileiros que chegaram na manhã de ontem ficaram oito horas na sala da polícia no aeroporto e mais dez horas no alojamento. De lá, foram levados para o avião.

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