Título: Suíça discute embargo, que ameaça produção da salsicha
Autor: Salvador, Fabíola
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Negócios, p. B2A
Produtores tentam mudar leis que afetam importação da carne brasileira
Jamil Chade
A ofensiva da União Européia contra o gado brasileiro ganhou um inesperado capítulo esta semana. Na cidade de Berna, o Senado suíço convocou uma sessão especial para tratar da carne brasileira. A preocupação não era com os lucros das fazendas do País, mas sim com o fato de que o embargo à carne está impedindo os suíços de importarem o produto para a fabricação de seu prato mais tradicional: a salsicha.
Ontem, o Ministério da Economia suíço informou aos parlamentares que não iria rever sua política em relação ao Brasil apenas por causa da salsicha, nem modificar suas exigências sanitárias para afrouxar os padrões. Segundo o governo, apenas provas científicas podem mudar o embargo. Mas o problema levantado pelos parlamentares é que o país pode agora simplesmente ficar sem salsicha.
Historicamente, o produto conhecido como cervela era feito com carne local, mas hoje depende da tripa da carne brasileira para ser fabricado. O governo suíço adotou uma série de barreiras sanitárias contra a carne brasileira desde abril de 2006. O temor dos europeus é de que o intestino das vacas brasileiras podem estar contaminados com a doença da vaca louca.
Ao lado do fondue e da raclete, o prato é considerado patrimônio nacional suíço e seu desaparecimento seria uma perda da identidade nacional e causaria prejuízos de US$ 100 milhões, alegam os defensores da salsicha.
Para que seja produzida, a salsicha precisa do intestino da vaca brasileira. Mais precisamente da tripa do gado zebu, que permite o revestimento da carne com um diâmetro de 32 a 34 milímetros. A indústria suíça precisa de cerca de 20 mil quilômetros de tripas por ano para embalar as salsichas.
Nos últimos meses, produtores suíços tentaram convencer os europeus a mudar a lei, mas não obtiveram sucesso. A Suíça não faz parte da União Européia. Mas, pelo fato de compartilhar fronteiras com os países do bloco, segue as mesmas orientações no campo sanitário.
No Parlamento suíço, o senador Rolf Buttikoffer apelou ontem para que o governo reveja o embargo. ¿A saúde da cervela vem do Brasil¿, afirmou. Já a ministra da Economia, Doris Leuthard, prometeu estudar uma alternativa à carne brasileira e quer esperar o resultado de um estudo científico para avaliar se de fato o produto nacional não é uma ameaça à saúde. Se esse for o caso, a ministra vai iniciar um processo para conseguir reativar a importação.
¿Esse é um problema nacional¿, afirmou a ministra. Ela garante que, apesar de ser consumidora da salsicha, nunca pensou que o produto dependeria do Brasil.
Uma das alternativas seria a carne uruguaia. Mas os suíços alertam que o país não teria como providenciar um volume suficiente. Outra solução, a carne de porco da China, não teria a mesma qualidade.
Os suíços enviaram veterinários para debater com os brasileiros uma forma de garantir que a questão sanitária seja resolvida. Para se ter idéia do que representa a salsicha na culinária suíça, basta olhar o cálculo dos produtores. Por ano, os 7 milhões de habitantes do país consomem 160 milhões de salsichas.
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