Título: Sem conter gasto público País não cresce nem 5%
Autor: Komatsu, Alberto ; Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Economia, p. B4
Para Armínio Fraga, País também precisa resolver lacunas de infra-estrutura e investir em educação
Nilson Brandão Junior
O Brasil precisa controlar o crescimento dos gastos públicos, resolver lacunas de infra-estrutura e investir fortemente em educação, ou não terá como crescer sustentadamente acima de 5% ao ano. Esse avanço poderá até acontecer de forma episódica, em um ano ou dois anos, mas não se repetirá de maneira consistente. A opinião é do ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga.
¿Eu penso que, se o Brasil não conseguir conter o crescimento do gasto público, talvez nem 5% (crescimento da economia) seja factível.¿ Fraga participou ontem da reunião anual do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), no Rio. Durante sua apresentação, ele disse que o Brasil é o ¿queridinho dos mercados financeiros¿ do momento, mas precisa enfrentar essas questões para crescer de forma sustentada. Durante a palestra, comentou ainda que o mundo passa por uma crise de ¿capital importância¿ e a América Latina deverá ser afetada.
Com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o economista comentou que a região deverá crescer 4,3% este ano, abaixo dos 5,4% estimados para 2007. Segundo ele, a taxa é bastante razoável, mas é a mais baixa entre as regiões em desenvolvimento. O ex-presidente do BC disse que há um clima de populismo em alguns países da região, como Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, e destacou as economias brasileira e mexicana em relação às demais.
Fraga participou de um debate logo depois da apresentação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Chegou a comentar que ¿é bom ver um membro do PT fazendo um discurso como esse que ele fez¿. Mantega havia destacado a responsabilidade fiscal e compromissos com a eliminação do déficit nominal.
Segundo Armínio Fraga, a economia mundial está em ¿alerta vermelho¿. Ele avalia que a economia americana está desacelerando e o mesmo deverá ocorrer com a Europa e o Japão. Mesmo a China, que vem crescendo de forma acelerada, tenta frear a expansão, para afastar a possibilidade de riscos inflacionários. Ele reconheceu, porém, que o Brasil não tem mais a mesma vulnerabilidade que tinha nas décadas passadas.
Para o vice-diretor-gerente do FMI, Murilo Portugal, o grande crescimento das economias emergentes mostra que elas ¿divergiram¿ da crise iniciada nos Estados Unidos, mas ainda não mostraram que vão ¿descolar¿. Segundo ele, ¿as economias emergentes serão afetadas pela redução do crescimento global¿. O executivo afirmou, porém, que a previsão para este ano das economias emergentes ainda é de 7% de crescimento, muito influenciadas pela expansão da China e da Índia.
De acordo com Portugal, o padrão de crescimento dos países está divergindo, mas os Estados Unidos representam ¿25% do mundo no PIB¿. E arrematou: ¿Nem o Brasil, nem a China nem ninguém¿ está imune à crise.
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