Título: Dados de emprego mostram que EUA já estão no início da recessão
Autor: Fernandes, Nalu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2008, Economia, p. B10

Governo divulga que foram cortados 63 mil postos de trabalho em fevereiro e derruba mercados no mundo

Nalu Fernandes

Os Estados Unidos já estão nos estágios iniciais de uma recessão, afirmaram ontem analistas de instituições em Nova York. Agora, os debates dos especialistas devem se voltar para a duração e a profundidade do processo.

A avaliação de que a recessão começou tem por base os dados de fevereiro do emprego no país. Relatório divulgado ontem pelo Departamento de Trabalho mostrou o fechamento de 63 mil vagas em fevereiro. A taxa de desemprego ficou em 4,8%, ante 4,9% em janeiro.

Imediatamente, o presidente George W. Bush tentou aliviar o temor de que o país esteja em recessão e afirmou que está adotando medidas (ler ao lado). Mas o esforço de Bush foi em vão. As bolsas de valores caíram em todo o mundo. Em Nova York , o Índice Dow Jones fechou em queda de 1,22%, para 11.893 pontos, o recuo na Nasdaq (que engloba as empresa de tecnologia) foi menor, 0,36%. Já a Bovespa, em São Paulo, perdeu 1,76%, para 61.868 pontos.

Em Londres, o índice FT-100 caiu 1,15% e fechou nos 5.699,9 pontos. Em Paris, o CAC-40 recuou 1,26% e fechou nos 4.618,96 pontos. Em Frankfurt, o Xetra-Dax caiu 1,17%, para 6.513,99 pontos.

Também fecharam em baixa as bolsas de Xangai, Sydney, Seul, Taiwan e Hong Kong. ¿Até o fim do primeiro trimestre, os mercados de Hong Kong vão continuar sem uma direção clara, como resultado da preocupação com o mercado de crédito nos Estados Unidos¿, analisou Peter Lai, diretor da DBS Vickers.

Após a divulgação dos dados americanos de emprego, o economista-chefe do Deutsche Bank, Joseph La Vorgna, passou a estimar que o Produto Interno Bruto (PIB) do país terá uma contração de 0,5% no primeiro trimestre e de 0,3% no segundo. Até a última semana, a instituição acreditava que o país conseguiria escapar da recessão, ainda que por margem estreita.

O economista-chefe do Nomura Securities, David Resler, observa que o declínio de postos de trabalho foi amplo. ¿A perda de vagas indica que a recessão começou¿, disse. O economista-sênior do CIBC World Markets, Meny Grauman, concorda que a recessão já está em andamento. Ele destaca a importância do payroll nessa avaliação, uma vez que o número já ¿previu corretamente¿ o início de muitas recessões no país.

Segundo o payroll, o comércio varejista perdeu mais de 34 mil vagas em fevereiro. Na avaliação do economista Jean-Marc Lucas, do BNP Paribas, essa tendência mostra que a perda de vagas não está mais restrita à construção e à manufatura. ¿A tendência desfavorável dos postos de trabalho deve continuar nos próximos trimestres¿, comentou.

JUROS

O vice-presidente de Mercado Global do Banco de Nova York Mellon, Michael Woolfolk, acrescenta que as perdas no setor varejista são ¿um claro sinal de que a atividade econômica está em desaceleração acentuada¿. ¿Nessas circunstâncias, o foco do mercado estará na trajetória do desemprego ao longo de 2008¿, observou.

Em fevereiro, o leve declínio na taxa de desemprego, para 4,8% ante 4,9%, é visto como resultado da contração da força de trabalho (menos pessoas procuraram emprego), ou seja, ¿como um sinal de enfraquecimento¿, disse La Vorgna, em teleconferência, após a divulgação do número.

Quanto à política monetária, o CIBC World prevê corte de 0,75 ponto porcentual no juro - que está em 3% - no encontro deste mês do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed) . ¿O Fed vai continuar cortando o juro agressivamente por algum tempo¿, disse Grauman.

Para o Deutsche Bank, os leilões a termo devem permitir que o Fed agüente até o dia do encontro (18 março) sem precisar cortar o juro. O Deutsche espera corte de 0,50 ponto porcentual no dia 18 e prevê que a taxa caia para 2% no encontro de abril. Para o economista-sênior do canadense BMO Capital Markets, Michael Gregory, o juro nos EUA chega a 1,75% em junho, ¿em razão das evidências de recessão¿.

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