Título: Neeleman confirma à Anac interesse no Brasil
Autor: Barbosa, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2008, Negocios, p. B21

Empresário deve ser o principal executivo da nova companhia aérea e pretende iniciar as operações, com jatos da Embraer, ainda este ano

O empresário David Neeleman, fundador da JetBlue, esteve ontem à tarde na sede da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em Brasília, para manifestar formalmente ¿seu interesse em atuar no mercado de aviação civil no Brasil¿. Neeleman foi recebido pela diretora- presidente da Anac, Solange Vieira, e pelo diretor Alexandre Gomes de Barros.

Como revelou o Estado, Neeleman pretende lançar uma companhia aérea no Brasil ainda este ano. O empresário já levantou cerca de US$ 200 milhões - sendo uma parte de recursos próprios e a outra de investidores estrangeiros e nacionais - para a nova empresa.

A companhia será totalmente independente da JetBlue e será a primeira a voar com os jatos E-190 da Embraer no Brasil. Há duas semanas, o empresário esteve no Brasil negociando com a Embraer a compra de 74 aviões (entre pedidos firmes e opções). Diante da possibilidade de ver finalmente seus aviões voarem em céus brasileiros, a Embraer tem dado todo o suporte ao empresário na nova empreitada.

No governo, a expectativa é de que Neeleman se transforme rapidamente em uma terceira força no mercado nacional, capaz de enfrentar o alto poder atualmente concentrado nas mãos da TAM e da Gol/Varig.

Publicamente, TAM e Gol dizem não temer a concorrência. Nos bastidores, porém, as duas estão atentas aos passos de Neeleman e estão dispostas até a recorrer à Justiça caso percebam algum sinal de favorecimento por parte do governo.

O interesse de Neeleman no mercado de aviação brasileiro surgiu após ele ter sido demitido da presidência da empresa que havia fundado oito anos antes. Neeleman foi demitido por investidores em maio do ano passado, três meses após o colapso das operações durante uma nevasca em um feriado. A empresa deixou passageiros por mais de cinco horas dentro de aviões sem comida nem informação. Apesar de Neeleman ter ressarcido passageiros e pedido desculpas publicamente, os investidores não o perdoaram.

Neeleman permaneceu na presidência do conselho de administração da JetBlue, mas pouco a pouco começou a se desfazer de parte de suas ações na companhia. Para firmar definitivamente o pé no mercado brasileiro, ele precisa ainda se desvencilhar de algumas funções no conselho da JetBlue.

Por ter dupla nacionalidade - é americano nascido no Brasil -, Neeleman pode dispensar laranjas para montar uma companhia aérea nacional. Pela lei brasileira, estrangeiros só podem ter 20% do controle de uma companhia nacional.

A nova companhia ainda não tem nome. Segundo fontes que acompanham o negócio, a intenção de Neeleman é manter uma base no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Mas ele também pretende brigar por um espaço nos aeroportos de Congonhas e Santos Dumont.

Uma das dificuldades que o executivo deverá enfrentar, afirmam fontes, é a falta de pilotos. Estima-se que praticamente todos os pilotos dispensados pela velha Varig tenham sido absorvidos pela TAM e Gol ou congêneres internacionais. ¿Além da falta de pilotos, o que se ouve é que os salários que estão sendo oferecidos não são muito atraentes¿, diz uma fonte.

Neeleman pretende comandar ele próprio as operações, dividindo seu tempo entre o Brasil e os EUA. Adepto da religião mórmon, o empresário tem nove filhos e é conhecido por ser discreto e muito ligado à família. No Brasil, ele apóia um fundo educacional que financia a entrada de jovens carentes na universidade.

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