Título: Bom desempenho confirmado
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2008, Notas e Informações, p. A3

Os novos dados de emprego e rendimento divulgados pelo IBGE são mais uma confirmação do bom desempenho recente da economia brasileira e uma razão a mais para otimismo em relação às perspectivas de crescimento em 2008. A pesquisa mensal conduzida em seis das principais áreas metropolitanas mostrou um leve aumento do desemprego em janeiro, variação meramente sazonal, e confirmou os importantes avanços acumulados em um ano. Mantida essa tendência, o aumento do consumo será um importante motor da expansão econômica nos próximos meses. O fortalecimento do mercado interno compensará, pelo menos em parte, uma provável perda de impulso das exportações ao longo do ano.

Em janeiro, o desemprego naquelas áreas subiu para 8% da população ativa, 0,6 ponto porcentual acima do nível de dezembro, mas ficou bem abaixo dos 9,3% registrados um ano antes. A população ocupada é 3,6% maior que a de janeiro de 2007 e - pormenor especialmente importante - o rendimento médio habitual dos ocupados é 3,4% superior, descontada a inflação, ao de igual mês do ano anterior.

A qualidade do emprego também se elevou, com a criação, em um ano, de 748 mil postos de trabalho com carteira assinada. A formalização dos contratos é um claro sinal de confiança das empresas na evolução dos negócios e aponta na mesma direção da expansão dos investimentos produtivos, indicada pelas contas nacionais e pelos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A combinação do aumento do emprego e da elevação do rendimento médio resultou, no ano passado, num sólido crescimento da massa de recursos à disposição dos consumidores. Em janeiro, a massa de rendimento médio habitual dos ocupados foi 5,7% maior que a de um ano antes, nas seis áreas metropolitanas cobertas pela pesquisa mensal do IBGE.

O salário mínimo de R$ 412,40, 8,52% maior que o atual, em termos nominais, também contribuirá para a expansão do consumo. O aumento, acima da inflação, é estimado em 3,7% e deve superar o de várias categorias profissionais. Esse valor deverá vigorar em 1º de março, de acordo com a política federal de antecipar gradualmente a vigência do mínimo. Em 2009, o aumento deverá valer a partir de 1º de fevereiro. A mudança deverá reforçar o orçamento de cerca de 14 milhões de aposentados e de grande número de trabalhadores com rendimentos atrelados ao piso salarial. O número desses beneficiários é estimado em 45 milhões pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).

A expansão dos investimentos e, portanto, da capacidade produtiva das indústrias, deverá atenuar o efeito do aumento do consumo sobre os preços. Apesar disso, é cedo, ainda, para se avaliar se o aumento interno da oferta acompanhará integralmente a ampliação da demanda. Seja como for, ainda há espaço para aumento das importações tanto de bens de consumo final quanto de máquinas, equipamentos e bens intermediários. Não há razão para temer, a curto prazo, um estrangulamento da oferta.

O rápido aumento do consumo privado, no entanto, só será sustentável e em prazo maior se pelo menos três condições forem garantidas. Uma delas é a continuada expansão do investimento em todos os setores produtivos. A segunda é o fortalecimento das empresas exportadoras, por meio de políticas de redução de custos e de aumento de competitividade. Uma boa reforma tributária será um passo essencial para isso. A terceira será a contenção do aumento dos gastos correntes do governo. Uma política fiscal mais prudente dará mais espaço para a ampliação do consumo privado. Se essas condições não forem observadas, pressões inflacionárias serão inevitáveis e o Banco Central, mais uma vez, será forçado a elevar os juros para limitar o crédito e frear a expansão dos preços.

O governo tem boas justificativas para festejar os atuais indicadores de crescimento econômico, de equilíbrio externo e de relativa estabilidade de preços. Mas, nenhuma dessas conquistas será sustentável, sem novos avanços na pauta de reformas e sem a adoção de uma política fiscal menos dependente do aumento da receita e mais baseada na gestão prudente das contas públicas.

Links Patrocinados